De maneira indireta, o próprio governo reconheceu isso na semana passada. Foi num relatório de 14 páginas encaminhado na sexta-feira, 29, pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República à direção da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), com o propósito de mostrar as ações que o governo vem desenvolvendo em defesa dos interesses dessa comunidade.
O documento, produzido após o governo ter sido pressionado pelos movimentos, aponta ações localizadas nos ministérios da Saúde, Justiça, Educação e Desenvolvimento Social. Em nenhum momento menciona esforços do governo para mobilizar a bancada parlamentar em defesa da aprovação do PL 122 ou de qualquer projeto de lei que garanta na Constituição o direito igualitário ao casamento civil.
"Não dá para negar que o governo desenvolveu algumas ações. Mas também não dá para negar que poderia ter feito muito mais. As nossas duas principais reivindicações, a criminalização da homofobia e o casamento civil igualitário ficaram de fora das ações do governo", observa o presidente da ABGLT, Carlos Magno. "Para mim foram duas derrotas para o movimento."
Ainda segundo Magno, o governo poderia ter dado prioridade à aprovação de leis nessa direção no Congresso. "Creio que houve uma acomodação com a aprovação de decisões favoráveis à igualdade de direitos no Supremo Tribunal Federal e no Conselho Nacional de Justiça."
Prêmios
O relatório cita prêmios que foram instituídos na área defesa de direitos humanos, programas destinados a estimular o turismo gay, financiamento de pesquisas sobre violência contra homossexuais, entre outras coisas.
Ainda segundo Magno, o governo da presidente Dilma deve ficar marcado pelo fato de ter proibido a distribuição na rede pública de material educativo sobre a discriminação de gênero e identidade sexual. "O pior foi a declaração da presidente de que seu governo não faria propaganda de nenhum tipo de opção sexual", observa.
Nesta terça-feira, 2, durante uma caminhadas pelas ruas de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, a presidente Dilma disse que o combate à homofobia não está relacionado à crença religiosa ou opção partidária. "É uma questão que eu acredito que seja do Estado. Não é uma questão de governo." .