A consulta, embora não tenha valor estatístico, serve como termômetro da atmosfera entre eleitores em São Paulo, maior colégio eleitoral do País. E indica: a menos de um mês do 1.º turno, a disputa continua em aberto.
Ao contrário do que apregoam pastores como Silas Malafaia e o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que na semana passada indicaram apoio a Marina, os valores religiosos não aparecem como as principais preocupações dos eleitores entrevistados.
“Eles deveriam se preocupar menos com o casamento gay e mais com a saúde, porque o povo está morrendo no corredor do hospital lá da minha região”, disse a diarista Maria de Souza, na saída do culto da Assembleia de Deus - Ministério de Madureira, no Brás, na região central.
“Sempre fui petista, mas estou arrependida. O Aécio não sei o que faz. A Marina... É, estava pensando em votar nela, porque é evangélica, mas eu estou com tanta raiva de político, que esse ano acho que não vou votar em ninguém, nem se o pastor pedir. Acho que esse ano, nem se Deus mandar!”
No entorno do templo no Brás, o líder da igreja aparece em propaganda eleitoral ao lado do pastor Cesinha e de Jorge Tadeu, candidatos a deputado estadual e federal pelo DEM, coligado ao PSDB.
É um exemplo das divisões internas na Assembleia de Deus, igreja que Marina Silva integra.
Ela está tecnicamente empatada com Dilma nas pesquisas, com 33% das intenções de voto contra 37% da rival. Mas salta para 43% entre evangélicos e dispara num eventual 2.º turno porque tem o dobro dos votos da petista entre os fiéis dessa religião.
O eleitor petista, porém, é menos pendular - 61% dos eleitores de Dilma estão convictos da decisão ante 50% de Marina. “Ser evangélico tem peso maior. Então, Marina seria a minha candidata, mas como ela entrou na disputa gora, ainda estamos avaliando propostas”, disse o montador de móveis Luiz Roberto, de 30 anos, em visita ao Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus.
Para ele, o recuo da candidata evangélica sobre a criminalização da homofobia e o casamento gay, embora tenha agradado a setores da igreja, demonstrou “insegurança”. “Foi um ponto negativo para Marina. Me deu a impressão de que ela não tem firmeza.”
Luiz Roberto é carioca e diz que, para governador do Rio, votará no senador Marcelo Crivella, do PRB, partido da base aliada do PT, que tem o apoio do bispo Edir Macedo, líder da Universal. A opinião do bispo conta, ele diz, por isso, se não votar em Marina, sua opção será por Dilma.
“Para mim não faz diferença. Vou em quem o pastor mandar, porque nesse meio político tem muita gente que quer atrapalhar o trabalho da igreja”, diz a empregada doméstica Débora Silva, de 28 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular.
“A mudança intempestiva do programa de governo por Marina foi malvista mesmo entre evangélicos. Muitos perderam a confiança nela”, acredita o cientista político Carlos Macedo, professor do Insper. “Além disso, embora Marina seja evangélica, a identidade dos fiéis com seus líderes religiosos é maior. A palavra do pastor é importante.
Errata
Menos de 24 horas depois de publicar um programa de governo que defendia o casamento de homossexuais, entre outros temas polêmicos, Marina divulgou uma “errata” eliminado esse pontos a tempo de o assunto não chegar aos cultos de sábado à noite. Dilma correu para anunciar que apoiaria no Congresso lei que dá benefícios às religiões, apresentado em 2009 pelo deputado George Hilton (PRB-MG), ligado à Igreja Universal que a apoia. Em 2010, o aborto foi tema de destaque.
Eleitores entrevistados, porém, demonstraram menos preocupação com esses assuntos na hora de votar do que seus líderes. “Ser evangélica conta a favor de Marina, porque nós compartilhamos valores de família, mas o que conta mesmo é o fato de ela ser uma alternativa fora do PT e do PSDB”, diz a empresária Eliane Peixoto, de 52 anos, da Assembleia de Deus.
Luciano Borges, de 37 anos, da Igreja Apostólica Vida Nova, na Mooca, na zona leste, também quer ver o fim da polarização entre PT e PSDB, mas diz ainda ter dúvidas sobre a capacidade de Marina governar. “Não sei se ela vai ter poder no Congresso”, diz. Pelo mesmo motivo, não vai votar no Pastor Everaldo (PSC). “Eu também sou contra o casamento gay, mas, para administrar um país do tamanho do Brasil, isso só não basta. É preciso ter pulso firme!”
Fiel da Igreja Presbiteriana, o vendedor de livros Airton de Oliveira, de 52 anos, cresceu em Minas, Estado governado por Aécio entre 2003 e 2010, e vive há seis anos em São Paulo, sob governo tucano desde 1994.
“Apesar de as pesquisas darem vantagem a Marina, seu eleitor é mais volátil. Ele está dando um voto de confiança a ela, após a morte de Eduardo Campos (em um acidente aéreo, em agosto), mas pode mudar de opinião no decorrer da campanha”, diz o cientista político Marco Antonio Carvalho, professor da Fundação Getúlio Vargas. “Além disso, as lideranças evangélicas estão polarizadas com Dilma. Já Aécio está deslocado.”
O tucano, que em agosto se reuniu com 2 mil líderes da Assembleia de Deus - Ministério do Belém, foi mencionado como favorito no 1.º turno somente por entrevistados da Igreja Batista, uma das mais conservadoras. Marina aparece como a alternativa deles a Dilma no 2.º turno.
Os evangélicos são 22,2% da população, segundo o Censo 2010. Somam 28 milhões de eleitores. Desde o ingresso de Marina na disputa, as campanhas dos três principais candidatos iniciaram uma corrida por esse voto.
“Em uma disputa tão polarizada, e se considerarmos que eles têm um comportamento coeso, os evangélicos podem decidir essa eleição”, avalia Carvalho. As informações são do jornal.