Dilma, que após o desfile na Esplanada reuniu-se com jovens para discutir reforma política, afirmou que não conversou com Lobão após ele ter sido citado por Costa como um dos possíveis beneficiários do esquema de propinas da estatal. “Ele deu as explicações oficiais que eu li na nota (enviada à revista). Ele nega haver qualquer interferência. Mas ele não sabe do que é acusado, porque nem está na matéria”, atacou Dilma.
Ela repetiu que deseja ter acesso às informações para saber como agir.
O desfile cívico-militar na Esplanada não contou com a presença de nenhum dos delatados por Paulo Roberto Costa. Além do ministro Edison Lobão, também não compareceram os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), este último candidato ao governo potiguar. Em 2013, os parlamentares peemedebistas também não apareceram por outros motivos – eles temiam possíveis manifestações de rua, sobretudo após a Câmara ter mantido, naquele ano, o mandato de Natan Donadon (PMDB-RO), que está preso na Papuda. O deputado foi cassado posteriormente.
Corrupção
Uma das poucas autoridades presentes ao desfile, Carvalho disse ontem que o vazamento de informações sobre os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa ao Ministério Público Federal tem cunho eleitoral e objetivo de mudar o rumo da campanha. Questionado se o Planalto é incapaz de combater as supostas práticas denunciadas por Costa na base aliada, Carvalho disse que, com o financiamento empresarial das campanhas, “não há quem controle a corrupção”. “Isso é com todos os partidos. Não há, infelizmente, nenhuma exceção”, disse o ministro.
A presidente, por sua vez, deixou o evento sem falar com a imprensa.
Entre as autoridades presentes ao desfile, estavam o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Adams, e o ministro da Defesa, Celso Amorim. Carvalho disse que “vazamento é uma coisa, em geral, dirigida”. “Advogados vazam dados para proteger um e beneficiar outro. Nós não estamos aceitando esse processo como um processo, por enquanto, real”, comentou o ministro. Para Carvalho, as denúncias não alteram a corrida eleitoral. “Não acredito que uma notícia, com alarde que ganha, possa interferir no destino de uma eleição”, minimizou, embora a campanha petista esteja em alerta.
O Estado de Minas apurou que o Planalto acompanha de perto o depoimento.
Entenda o esquema
» Em março, a Polícia Federal prendeu, durante a Operação Lava a Jato, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa (foto). Ele era acusado de ter envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, que teria desviado R$ 10 bilhões. Ele foi acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
» Costa, à época, era investigado pelo Ministério Público Federal pela compra da refinaria de Pasadena, no Texas, negócio que teria causado um prejuízo de R$ 1 bilhão à estatal. Quando foi preso, em casa, ele tentava destruir prova de seus negócios com o doleiro por meio de uma empresa de consultoria que montou cinco meses depois de deixar a Petrobras. Na casa do ex-diretor, foram apreendidos R$ 700 mil e US$ 200 mil em espécie.
» Em abril, com o aprofundamento das investigações, a Polícia Federal fez uma investida também nos nomes da mulher e dos filhos de Costa. De acordo documentos apreendidos, a família, incluindo os genros, gastou mais de R$ 10 milhões em imóveis e em uma lancha de alto padrão, nos últimos cinco anos.
» Em agosto, incomodado com a investida dos federais nos negócios de sua família e diante da troca de seu advogado, o ex-dirigente negociou com o Ministério Público Federal a delação premiada. Para isso, teria que apresentar fatos novos e provas das acusações.
» As sessões de depoimento para delação tiveram início no dia 29 de agosto e foram acompanhados por representantes do Ministério Público Federal, PF e o advogado de Costa. Neles, o ex-diretor da Petrobras disse que políticos dos partidos PP, PT, PMBD e PSB recebiam propina de 3% do valor de contratos da estatal para financiar suas campanhas.
» Segundo a revista Veja, Costa denunciou que participavam do esquema empreiteiras, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), os governadores e ex-governadores Eduardo Campos (PSB-PE), Roseana Sarney (PMDB-MA) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), além dos deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Henrique Eduardo Alves (PMDB- RN), João Pizzolatti (PP-SC), Mário Negromonte (PP-BA), e dos senadoresS Ciro Nogueira (PP-PI), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR). Afirmou ainda que o intermediário das transações era o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (SP).
» Na sexta-feira, os depoimentos de Costa, que foram todos gravados e criptografados, foram remetidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavasck, para análise. Até ser concedido o benefício da delação premiada, todas as acusações do ex-dirigente terão que ser investigadas pela PF. Caso se comprovem, Costa pode cumprir uma pena, que chegaria a 50 anos, em liberdade, com o simples uso de tornozeleiras.