O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que representou a presidenta Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, disse que o crescimento baseado na ampliação do mercado interno não está esgotado e que o Brasil, por não ser ainda um país de classe média nos padrões das nações desenvolvidas, tem espaço para ampliar o mercado, não só em suas dimensões, "mas também em sua profundidade de absorção". Garcia criticou a proposta de independência do Banco Central, que, para ele, significaria uma dependência dos bancos privados e reduziria a capacidade do governo de promoverpolíticas macroeconômicas e de desenvolvimento.
Ele destacou que a coligação liderada pelo PT tem, como pilares de um salto produtivo para o Brasil, a solidez macroeconômica, o aumento da amplitude de políticas sociais para atender a reivindicações como mobilidade, segurança, educação e saneamento, e o incentivo a um novo modelo produtivo, que ganhará competitividade com o investimento em inovação e qualificação, e será reforçado pelo pré-sal, que "terá profundas implicações na constituição de uma indústria moderna e competitiva no Brasil". Entre as ações do governo, Garcia citou o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Ciência sem Fronteiras, e os investimentos da empresa Finep - Investimento e Pesquisa no incentivo à inovação.
Marco Aurélio Garcia também defendeu o Mercado Comum do Sul (Mercosul), dizendo que não corresponde à realidade a afirmação de que acordos bilaterais resolveriam os problemas da economia brasileira. Segundo Garcia, o Mercosul está pronto para fechar acordo com a União Europeia, e isso não se dá porque os europeus não têm uma proposta pronta, por estarem em "uma crise selvagem". Ainda sobre o Mercosul, o assessor presidencial disse que propicia ao Brasil grande parte de suas exportações com valor agregado.
O economista José Roberto Mendonça de Barros, que representou o candidato do PSDB, Aécio Neves, disse que o governo não soube reconhecer que é necessária uma transição entre modelos "com o esgotamento do arranjo de crescimento que aconteceu até 2010". Entre os fatores que apontou para a mudança, estão a desaceleração do crescimento da China, grande importadora de produtos brasileiros, o fim do período internacional de juros muito baixos e do crescimento acelerado da demanda interna, o menor aumento na arrecadação e o término do crescimento rápido do Produto Interno Bruto (PIB) e da política de "campeões nacionais", que considerou fracassada. Como exemplo, o economista citou a derrocada do conglomerado X, do empresário Eike Batista.
Ele reconheceu que o país avançou no combate a inflação, na geração de emprego e na redução das desigualdades, mas ressaltou que "o Brasil não começou em 2003", em referência a governos anteriores como os do PSDB. Para o economista, a queda da indústria automobilística, prevista para 10% neste ano, é um dos maiores equívocos de política industrial dos últimos tempos. Mendonça de Barros criticou também a Medida Provisória (MP) 579, que, em sua opinião, desestruturou o setor elétrico, levando à quebra do Sistema Eletrobras. O representante de Aécio disse que um governo do PSDB reorganizaria as contas públicas com transparência, "já que estão contaminadas pela contabilidade criativa do governo".
De acordo com Mendonça de Barros, só haverá retomada do crescimento com a simplificação do sistema tributário, que é o caminho para a redução da carga. Para ele, essa medida é tão importante hoje quanto o combate à inflação foi no começo dos anos 90. "É por isso que os caramelos e outros agrados tributários não trouxeram o crescimento de volta", ironizou o economista, em referência à desoneração tributária em alguns setores. É preciso ainda "destrancar as regulações trabalhistas, sem a perda de direitos", e "acabar com o mito de que a terceirização precariza o trabalho", concluiu.
Falando pela candidata do PSB, Marina Silva, o professor de direito da Universidade Federal de Pernambuco e ex-deputado Maurício Rands criticou o que chamou de simplificação do debate por marqueteiros. Ele exemplificou com uma propaganda do PT, segundo a qual, "dar independência ao Banco Central (BC) é tirar comida da mesa do pobre". Rands ressaltou que a independência do BC é que vai dar credibilidade à política monetária para reduzir a inflação.
Ele destacou que é preciso reconhecer os avanços da institucionalização da democracia, com o PMDB, da estabilização da economia, com o PSDB, e da redução das desigualdades, com o PT, mas afirmou que o Brasil parou de melhorar nos últimos anos. Rands também se opôs à fala de Marco Aurélio Garcia de que só há dois projetos econômicos em discussão e destacou que o projeto do PSB é o terceiro e quer unir o Brasil. Rands ressaltou que o partido terá um novo modo de fazer política e não trocará espaços no Estado por minutos de televisão ou por apoio no Congresso, o que, na visão dele, gera episódios de corrupção. O professor defendeu a necessidade de maior integração entre as áreas do governo, de reduzir a burocracia e reformar o Judiciário, para que se sinta corresponsável pelo desenvolvimento nacional.
Rands disse que a Petrobras não pode ser usada no controle do preço dos combustíveis e da inflação e que, para uma política energética sustentável, não basta investir em fontes renováveis. Ele considerou uma "manipulação grosseira" dos adversários dizer que Marina é contra a exploração do pré-sal, que é "uma riqueza estratégica".
Com Agência Brasil .