Brasília e São Paulo – A presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e a candidata do PSB, Marina Silva, tiveram mais um dia de embates em torno da proposta de autonomia do Banco Central. Enquanto Marina, na capital paulista, defendeu novamente a independência do órgão, Dilma, em terras candangas, disse que essa medida não dá certo e aproveitou para dizer que “não recebeu nem pagou bolsa banqueiro”. “Eu não criei bolsa banqueiro e também nunca recebi bolsa banqueiro. Não recebi e não paguei. São duas coisas”, frisou. A referência é dupla à Marina, que, além de ter acusado a presidente, na terça-feira, de ter feito a “bolsa banqueiro” e a “bolsa juros altos”, tem ao seu lado a herdeira do Itaú, Neca Setúbal, na coordenação do programa de governo.
Segundo a presidente, medidas adotadas por países afetados pela crise seriam repetidas no Brasil pelos outros candidatos. “Parece que o que estão querendo aplicar aqui não está dando certo no mundo, que é uma política recessiva aberta, nós seguramos essa crise mantendo o investimento”, afirmou. Entre as ações do seu governo contra a crise internacional, a presidente destacou os investimentos em concessões de rodovias e em transporte público de massa. “Esse povo da autonomia do Banco Central quer o modelo anterior, quer fazer um baita ajuste, um baita superavit primário, aumentar os juros para danar, reduzir o emprego e reduzir salário. Porque emprego e salário não aumentam a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso”, justificou.
CONTRA-ATAQUE Do outro lado, Marina acredita que a liberdade do BC, medida comum em países desenvolvidos, resgata a confiabilidade no país. “O BC autônomo é capaz de controlar a inflação e adquirir credibilidade para o país voltar a crescer. É fundamental para evitar o que acontece hoje como a Petrobras, que perdeu metade do seu valor e está quatro vezes mais endividada”, contra-atacou. Marina Silva destacou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em 2002 uma carta aos brasileiros onde se comprometia a manter instrumentos da política macroeconômica do governo FHC como autonomia do Banco Central, responsabilidade fiscal e controle da inflação. “Tudo isso foi negligenciado no governo da presidente Dilma”, disse Marina.
Na resposta a Dilma, a socialista disse não ser “sustentada por banqueiros”. “Em 2010, quem recebeu o maior financiamento de campanha do Itaú foi a própria Dilma”, lembrou. Marina também defendeu a educadora Neca Setúbal. “Quando a Neca ajudou no programa do (Fernando) Haddad era educadora. Agora é vista como banqueira”, reclamou, condenando a postura do PT de “satanizar” quem não está ao seu lado. Marina garantiu a manutenção de programas sociais como o Bolsa-Família. “Os brasileiros não devem assinar um cheque em branco para quem não apresentou seu programa de governo e se dedica a desconstruir o dos outros.”
A candidata também adiantou que os advogados dos PSB tomarão providências para combater o que Marina classificou como “força descomunal de mentiras” dos oponentes Dilma Rousseff e Aécio Neves (PSDB). “PT e PSDB estão juntos na mesma artilharia pesada, utilizando os mesmos meios para destruir a nossa candidatura.” Marina disse se sentir injustiçada pelas “indústria de boatos” e pelas “mentiras que estão sendo feitas”.
PATRIMÔNIO CORRIGIDO Marina Silva enviou à Justiça Eleitoral retificação de seu patrimônio declarado, acrescentando um saldo de R$ 45,6 mil em aplicações em poupança e em renda fixa no HSBC. Com a retificação, o patrimônio declarado sobre de R$ 135 mil para R$ 181 mil. A correção foi pedida à Justiça no dia 4, o mesmo dia em que veio à tona a informação de que a campanha de Dilma iria pedir ao Ministério Público investigação sobre eventual omissão de Marina em relação aos seus ganhos com palestras.
Datafolha
Pesquisa Datafolha divulgada ontem aponta a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, com 36% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparece a ex-senadora Marina Silva (PSB) com 33%, seguida por Aécio Neves (PSDB) com 15%. No segundo turno, Marina venceria com 47% das intenções de voto contra 44% da presidente. A pesquisa, realizada terça-feira e ontem, ouviu 10.568 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-00584/2014.