Jornal Estado de Minas

Lucro dos bancos se mantém em alta no governo Dilma

Ganho médio anual do sistema financeiro no governo atual bate os dos dois antecessores

Paulo Silva Pinto
"Parece que o que estão querendo aplicar aqui não está dando certo no mundo, que é uma política recessiva aberta, nós seguramos essa crise mantendo o investimento" - Dilma Rousseff, candidata à reeleição - Foto: Evaristo SáAFP

Brasília – Se a economia brasileira avançar 0,5% até dezembro, número apontado nas previsões mais otimistas, a presidente Dilma Rousseff (PT) acabará o atual mandato com média de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,6%. Ficará abaixo dos dois antecessores, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que atingiu 4%, e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com 2,3%. Em outro item, porém, ela bate ambos: nunca os bancos lucraram tanto quanto em seu governo. O tema está no centro do debate eleitoral, com troca mútua de acusações entre Dilma e a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, sobre o suposta propensão de cada uma para favorecer a banca. Nessa quarta-feira, houve novas declarações de ambas (leia mais).

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"O BC autônomo é capaz de controlar a inflação e adquirir credibilidade para o país voltar a crescer. É fundamental para evitar o que acontece hoje como a Petrobras, que perdeu metade do seu" - Marina Silva, candidata do PSB ao Planalto - Foto: Nelson Almeida/AFP
Nos três anos completos de Dilma, o sistema financeiro nacional lucrou R$ 115,75 bilhões. É quase o dobro dos R$ 63,63 bilhões somados em oito anos do governo Fernando Henrique, em valor atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até dezembro de 2013. Sob Lula, os ganhos atingiram R$ 254,76 bilhões. Na média anual, a ocupante do Planalto fica com R$ 38,58 bilhões; Lula com R$ 31,84 bilhões; e FHC com R$ 7,95 bilhões.

Este ano, os ganhos estão em alta.

Estudo da consultoria Austin Asis com base nos balanços do primeiro semestre mostra elevação de 25,2% do lucro líquido dos bancos privados em comparação com o mesmo período de 2013. O Itaú, primeiro do ranking em patrimônio, lidera também o avanço entres os cinco maiores, com alta de 32,1%.

“As instituições financeiras do Brasil não estão entre as maiores do mundo em ativos, - Foto: mas sim em lucratividade”, informou o analista da Austin Asis Luiz Miguel Santacreu. Ele lembrou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se esforçou no início do atual governo para reduzir os juros cobrados pelos bancos, sobretudo por meio da pressão sobre as instituições públicas. Mesmo assim, a lucratividade não foi afetada. “O incentivo ao consumo fez o crédito crescer”, notou.

AVALIAÇÕES O analista do sistema financeiro José Luís Rodrigues, da JL Rodrigues, explicou que os resultados foram piores no governo FHC porque o sistema financeiro passou por adaptações para se adequar à baixa inflação. “Foi um ajuste difícil. Depois veio a bonança do governo Lula, graças, sobretudo, ao ambiente internacional favorável”, avaliou.

Para o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon), Carlos Eduardo de Freitas, as instituições financeiras são vistas com preconceito por políticos e parte da sociedade. “Não vejo razão para que o lucro seja baixo”, apontou Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC).

Na sua opinião, Dilma e Marina erram ao trocar acusações que têm como foco o sistema financeiro. O ex-diretor do BC discorda de que o governo petista proporcione uma “bolsa banqueiro” por meio dos juros altos, como disse Marina, e também que a proposta da socialista de autonomia do BC coloque em risco empregos, um argumento de Dilma. “Se houvesse autonomia hoje, os juros seriam mais baixos, porque a credibilidade seria maior.” Nesse sistema, o presidente do BC usa os instrumentos de política monetária para alcançar a meta fixada pelo Executivo. “Se ele enfrentar dificuldades porque o governo não faz sua parte ao conter gastos públicos, pode dizer isso claramente, em público”.

Para Freitas e Rodrigues, embora os banqueiros estejam satisfeitos com o desempenho atual dos negócios, eles temem pelo que possa ocorrer a médio e longo prazos. “Há risco de queda na lucratividade.
Para os pequenos e médios bancos, isso já está acontecendo”, disse Rodrigues. “As medidas intervencionistas do governo desequilibraram a economia. A situação pode se agravar porque o Brasil está entre os países mais frágeis hoje. Banqueiros não gostam de susto, porque seus negócios não suportam pânico”, afirmou Freitas.

Meirelles é cotado

As especulações sobre quem será o ministro da Fazenda num eventual segundo governo de Dilma Rousseff ganharam mais um nome ontem: o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que esteve no comando da instituição nos dos mandatos de Lula. Seria, inclusive, o ex-presidente o responsável por reaproximar Meirelles de Dilma. Desde que deixou o governo, em 2010, a relação deles é tida como “inexistente”, fato que levou o ex-presidente do BC a quase declarar apoio a Marina Silva. Só não o fez, confidenciam interlocutores do  Planalto, por causa de um pedido pessoal de Lula, que sempre tentou emplacar Meirelles na Fazenda. (Deco Bancillon)

 

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