São Paulo - O quarto bloco do debate entre os candidatos a presidente realizado na noite desta terça-feira pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e transmitido pela TV Aparecida foi marcado pelo tema da corrupção e por dois direitos de resposta, concedidos à presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e ao candidato Aécio Neves (PSDB). Os direitos de respostas forma analisados por advogados da CNBB. Respondendo a críticas de Aécio, Dilma afirmou que, durante toda a sua vida, sempre teve "tolerância zero" contra a corrupção. "No caso da Petrobras, quero lembrar o Aécio que quem investigou e descobriu todos os crimes de corrupção foi um integrante do governo, vinculado ao Ministério da Justiça, a Polícia Federal (PF)", afirmou Dilma. Neste bloco, o sorteio não permitiu um confronto entre os três principais candidatos - Dilma, Aécio e Marina Silva (PSB).
De acordo com Dilma, "não é fácil" descobrir um sistema do "tamanho" do que foi denunciado recentemente, referindo-se às acusações do ex-diretor de Abastecimento e Refino da estatal Paulo Roberto Costa em delação premida. "Quero dizer que nós fortalecemos a Polícia Federal, criamos o Portal da Transparência, nomeamos um Ministério Público baseado em lista tríplice e nunca escolhemos um engavetador-geral da República. Se hoje se descobrem casos de corrupção, é porque não varremos para baixo do tapete", disse.
Já Aécio retrucou acusações da candidata Luciana Genro (Psol). Luciana havia afirmado que o mensalão surgiu com o PSDB em Minas Gerais, com o ex-governador Eduardo Azeredo. "O senhor fala como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção", declarou a candidata do PSOL.
Aécio respondeu afirmando que as acusações de Luciana eram "absolutamente irresponsáveis" e que não gastaria o tempo no debate rebatendo-a. Aécio preferiu afirmar que aprendeu, "muito cedo", que ética e política devem caminhar como "irmãs siamesas". "Me orgulho muito das minhas tradições e formação católica", disse. "O radicalismo é de uma candidata que se apresenta sem propostas para o Brasil", limitou-se a retrucar, depois de dizer que saudava o retorno dela às origens do PT.
Na réplica ao candidato José Maria Eymael (PSDC) sobre reforma agrária, Marina criticou os governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, além do de Dilma, por segundo ela terem abandonado o setor. Marina afirmou que Dilma assentou 20 mil famílias, Fernando Henrique 60 mil e Lula 70 mil, enquanto no País hoje 85 mil famílias precisam ser beneficiadas. "Temos uma situação de completo descaso para com este dilema dos assentados", disse. E prometeu que, se eleita, assentará as 85 mil famílias.
Sobre as acusações de corrupção na Petrobras, Marina defendeu a criação de um "comitê de busca" para preencher cargos na estatal e nas agências reguladoras. "Para o Brasil que queremos, é fundamental que o governo feche o dreno da corrupção." Marina admitiu também que o Brasil teve conquistas significativas, como democracia, estabilidade econômica, que, segundo ela, estão ameaçadas com a ameaça da volta da inflação, o baixo crescimento, a elevação dos juros. Marina defendeu também a "preservação de conquistas", como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. "Tantos me acusam de que não sou favorável (a esses projetos), mas minha vida é testemunha que sou favorável a tudo o que pode melhorar a qualidade de vida das pessoas."
O candidato Eduardo Jorge (PV), em resposta a Luciana Genro, reconheceu que é difícil ele ganhar a eleição, mas prometeu que, se vencer, vai tirar as famílias de áreas de risco. Luciana preferiu criticar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, que segundo ela "trata a moradia como caso de polícia". Ela referia-se à reintegração de posse que aconteceu hoje num prédio no centro da capital paulista e causou diversos conflitos.
Dilma, em réplica ao candidato Levy Fidelix (PRTB), a uma pergunta que ela mesma fez, voltou a dizer que não concorda com a independência do Banco Central (BC). Ela afirmou que o BC deve ter "autonomia operacional". "De fato a independência do BC é um equívoco, até porque a Constituição só prevê independência para os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo." Segundo a presidente, a política econômica deve ser debatida e legitimada pelo voto popular. "Sou a favor de que o BC seja livre para perseguir as metas de inflação, mas não independente a ponto de seus diretores não poderem ser demitidos", defendeu. "Discordamos de muitas coisas, mas creio que neste ponto concordamos absolutamente. O controle do Banco Central tem de ser realmente do Estado", respondeu Fidelix.