A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julga nesta quinta-feira
pedidos de reparação de 16 índios suruís que reclamam ter sofrido violações de direitos humanos por parte das Forças Armadas durante combates à guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Eles alegam ter sido atingidos pela intervenção dos militares em sua aldeia, localizada em uma região de castanhais, entre São Domingos e São Geraldo do Araguaia, no sudeste paraense, epicentro da repressão da ditadura. Testemunhos recolhidos pela comissão acusam que as tropas cometeram maus-tratos e alteraram a rotina da comunidade.
Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia, adianta que cada caso será julgado individualmente. Ele ressalta que os testemunhos orais são a base fundamental dos processos que entrarão na pauta. Os testemunhos serão divulgados durante o julgamento. “Nesses processos dos indígenas, as instruções e os meios comprobatórios são os mesmos dos casos dos camponeses, com o acréscimo dos relatórios dos antropólogos”, afirma. Abrão destaca que a Lei de Anistia prevê indenizações não apenas para casos clássicos de tortura e prisão, mas para pessoas atingidas por “atos de exceção”.
Os integrantes da comissão vão avaliar se a presença militar na aldeia dos suruís, os deslocamentos de tropas, os sobrevoos de helicópteros, a alteração na rotina da comunidade, os impedimentos de caça e pesca e o uso de índios na função de guias podem, por exemplo, ser caracterizados como “atos de exceção”. “A Lei de Anistia não leva em conta, unicamente, a materialização da tortura e da prisão”, afirma Abrão. Ele diz que o caso dos índios é uma situação diferente, que não pode ser comparada unicamente com a dos camponeses.
O presidente da Comissão de Anistia diz que é impossível prever o resultado dos julgamentos, mas avalia que o grupo estará atento para casos de índios que atuaram em equipes de perseguição. A comissão indefere pedidos dos chamados “bate-paus”, moradores que ajudaram militares a combater outros camponeses e guerrilheiros. Ele ressaltou ainda que, no caso dos suruís, foram respeitados os critérios de entrada dos pedidos na pauta de julgamento, como a numeração do processo, a idade e eventuais doenças graves dos que solicitam a reparação.
Até agora, a comissão indenizou 44 camponeses do Araguaia. Outros 300 casos estão em tramitação. O do agricultor Josias Gonçalves, o Jonas, que integrou a frente guerrilheira, é um deles. Ele fez trabalhos forçados em bases militares e, hoje, enfrenta dificuldades de se alimentar.
A lista inclui também a ex-professora Edna Rodrigues de Souza. Confundida com a guerrilheira Dinalva Teixeira, a Dina, ela foi presa e torturada diante dos vizinhos. Violentada, saiu da prisão grávida e sem o emprego. Outro que está na relação é o barqueiro Antonio Viana, o Zezinho. A mãe dele, Maria Viana, sofreu infarto fulminante após o sequestro de um dos filhos, Geovane, que nunca foi encontrado..