Durante as buscas e apreensões realizadas durante a Operação São Cristóvão, deflagrada na manhã desta sexta-feira (19/9), policiais e promotores apreenderam 12 carros de luxo, dólares, euro, jóias e até obras de arte. Dois cofres foram recolhidos em um apartamento no Sudoeste. Até o começo desta tarde, mais de R$ 1 milhão havia sido contabilizado pelos agentes. De acordo com a Polícia Civil, o patrimônio das quatro mulheres presas por suspeita de desvios no Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) está avaliando em R$ 35 milhões.
Os responsáveis pela apuração explicam que, no período das investigações, entre 2011 e 2012, os desvios foram de R$ 20 milhões. Mas, segundo os investigadores, o montante pode chegar a R$ 70 milhões. As apurações começaram na Controladoria-Geral da União (CGU), que notou alterações na folha de pagamento das suspeitas. “Fizemos os cortes dos grandes rendimentos do sistema e apareceu o grupo. Identificamos as diferenças de valores entre salário-base e gratificações. Uma pessoa que recebia R$ 200 mil por ano, por exemplo, teve rendimento de R$ 1 milhão. E isso foge do padrão”, detalhou Israel José Reis de Carvalho, auditor da CGU.
Depois da apuração da CGU, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) começou a investigar de forma mais ampla as mulheres que exerciam alguma chefia no sistema e descobriam que elas comandavam uma organização criminosa responsável pelos desvios. As investigações indicaram que, além de diferenças nas folhas de pagamento, havia contratação de autônomos que não exerciam o trabalho contratado ou superfaturavam os valores dos contratos. “E identificamos que essas pessoas eram sócias ou familiares das mulheres. Fizemos uma força-tarefa para desmanchar esse grupo que atuava há alguns anos”, detalhou o chefe da Deco, Fábio Souza.
A ostentação das quatro mulheres presas durante a Operação São Cristóvão, Maria Pantoja, Jardel Soares, Ilmara Chaves e Anamary Socha, chamou a atenção até dos investigadores. “Elas não compravam uma mansão. Compravam cinco, seis. Não compravam um carro importado, compravam cinco, seis. Surrupiavam há pelo menos sete anos e começaram a deixar rastros. O valor desviado pode chegar a R$ 70 milhões”, afirma o chefe-adjunto da Deco, Fernando Cocito. Responsáveis por empresas de fachada também são investigados pela polícia. “Identificamos um lava a jato que recebeu R$ 1 milhão para oferecer os serviços para o Sest/Senat. Devem ter lavado muitos carros”, complementa Cocito.
Uma quinta dirigente do sistema, que também teve a prisão preventiva decretada, não está em Brasília, mas precisa se apresentar à Polícia Civil. Assim como o ex-senador Clésio Andrade (PMDB). A Justiça determinou a condução coercitiva de Andrade, mas ele não estava em casa, em Belo Horizonte, quando os policiais do DF chegaram. Ele presidia o Sest/Senat no período investigado. “A suspeita do envolvimento veio quando analisamos os documentos que ele encaminhou à polícia justificando os gastos. Há indicação da participação dele, mas ainda é prematuro dizer quanto ele teria recebido”, explica o delegado Fábio.