São Paulo - Líder nas pesquisas para governador em Mato Grosso do Sul, o senador Delcídio Amaral (PT) omite as cores do PT no horário eleitoral e nas principais peças da campanha. O candidato construiu uma aliança com 12 partidos em um Estado no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff nunca foram os mais votados ao Planalto.
Delcídio não é um petista de longa data - filiou-se em 2001, a convite do então governador Zeca do PT - nem tem história no sindicalismo como o anfitrião no partido. O senador afirma que nunca se filiou a outros partidos - ele chegou a assinar ficha de filiação ao PSDB, mas seu ingresso não foi homologado. Delcídio ocupou cargos em estatais no governo Fernando Henrique Cardoso, depois de ser ministro de Minas e Energia na reta final da gestão Itamar Franco.
Os adversários de Delcídio aproveitam para criticar o candidato do PT por “esconder” seu partido. “Ele reciclou as cores e não tem falado sobre o partido na TV. Não sei se está envergonhado”, provoca o deputado Reinaldo Azambuja, que disputa o governo pelo PSDB. Zeca do PT, que levou Delcídio ao partido, hoje é candidato a deputado federal. Ele não aparece no programa eleitoral fora do espaço destinado aos candidatos a uma vaga na Câmara.
Para vice, Delcídio escolheu uma figura controvertida em Mato Grosso do Sul, o deputado estadual Londres Machado (PR), que está na Assembleia Legislativa há 44 anos - são 11 mandatos consecutivos - e ocupou a presidência da Casa sete vezes. “Minha aliança é com partidos de centro e de esquerda. Londres é liderança forte na região sul do Estado, agrega politicamente. Mostra que estou preocupado com a governabilidade, já que tem boa relação com a Assembleia”, diz Delcídio. O nome do candidato do PT chegou a ser citado em denúncias de fraude na CPI da Petrobrás. “As acusações não têm fundamentação, são inconsistentes e não houve repercussão”, afirma Delcídio.
As pesquisas parecem dar razão. Segundo números divulgados ontem pelo Ibope, Delcídio tem 42% das intenções de voto, ante 23% de Azambuja e 16% do ex-prefeito de Campo Grande Nelson Trad Filho (PMDB). O cenário levaria a uma vitória no 1.º turno.
“Há um cansaço com o PMDB no Estado, sinalizado desde a eleição para prefeito de Campo Grande em 2012”, diz Delcídio, lembrando o fato de o PMDB ter perdido a prefeitura após 20 anos no poder.
O atual governador André Puccinelli (PMDB), que tem a maior aprovação entre os governadores do País (58% entre ótimo e bom, segundo o Ibope) atua de forma tímida na campanha do peemedebista, o que foi interpretado como apoio informal a Delcídio. “Isso é coisa da oposição. O governador é muito partidário, defende a nossa candidatura, faz reuniões fora do expediente e participa de programas de TV”, diz Trad Filho. Delcídio lembra que, apesar da boa relação com Puccinelli, o governador de Mato Grosso do Sul tem candidato do partido e trabalha por ele. Procurado, Puccinelli não quis dar entrevista. Azambuja tenta se apresentar como terceira via, uma vez que PMDB e PT vêm se alternando no poder estadual. Mas o PSDB em Mato Grosso do Sul foi aliado dos peemedebistas no âmbito estadual até dois anos atrás e tentou se coligar com os petistas para a disputa de outubro.
O PSDB fez parte da base de apoio que elegeu Puccinelli em 2006 e o reelegeu em 2010. Em 2012, o partido rompeu com o PMDB e lançou Azambuja para a prefeitura de Campo Grande. Ele ficou em terceiro lugar na disputa municipal. Em 2014, PT e PSDB estaduais chegaram a acordo para uma coligação estadual, com Delcídio candidato ao governo e Azambuja, ao Senado. Mas a aliança foi vetada tanto pela direção nacional petista como pela tucana. Pecuarista, Azambuja é o segundo candidato mais rico do País, com patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 37,8 milhões.