João Valadares
Após o fenômeno eleitoral Marina Silva (PSB), que apareceu encostada na presidente Dilma Roussef (PT) logo nas primeiras pesquisas divulgadas depois da tragédia que vitimou o então candidato do PSB, Eduardo Campos, no dia 13 de agosto, a pessebista apresenta agora um quadro consolidado de queda. Na avaliação de cientistas políticos, há dois motivos básicos para a retração de Marina detectada na reta final da campanha: ataques intensos dos adversários sem ter tempo de televisão para se defender e recorrentes recuos durante a corrida presidencial, o que evidenciou fragilidade da candidatura.
A ordem no ninho tucano agora é intensificar ainda mais a artilharia contra Marina. A partir desta semana, Aécio vai insistir na fragilidade da equipe “marineira” e na insegurança do PSB ao apresentar as propostas de governo. Na outra ponta, a campanha petista manterá a mesma pisada. O objetivo é reforçar a ideia de que Marina Silva diz uma coisa num dia e recua no outro.
No fim de agosto, após comemorar ótimo desempenho nas pesquisas eleitorais, a ex-ministra sofreu o primeiro escorregão na corrida pelo Palácio do Planalto. Um dia após lançar programa de governo em que defendia a aprovação de projetos e emendas constitucionais que assegurassem o casamento civil entre homossexuais, a campanha da candidata recuou. No novo texto, após pressão de setores evangélicos, o programa passou a não defender alterações na legislação. Também foi suprimido o trecho em que o PSB fazia menção à aprovação da Projeto de Lei Complementar 122/06, que torna crime a homofobia.
A partir daí, a onda que se anunciava foi contida. A campanha petista não perdeu tempo. Aproveitou para atacar um das coordenadoras do programa, a herdeira do Banco Itaú Neca Setúbal. O PT conseguiu consolidar a imagem de que um eventual governo Marina Silva seria marcado pela influência direta de banqueiros na formulação das políticas públicas. Também carimbou na candidata a pecha de “coitadinha”, após o episódio em que Marina chorou por causa dos ataques do ex-presidente Lula. Pouco antes, aproveitando as idas e vindas da ex-ministra, Aécio também a fustigou. “O Brasil não é para amadores” e emendou dizendo que o programa de governo da candidata era escrito a lápis.
O cientista político Murilo de Aragão destaca que o pouco tempo na propaganda política, apenas dois minutos, não permite que Marina consiga desconstruir as críticas recebidas. “Marina tem apenas dois minutos na televisão. Os adversários dela têm 17 minutos para atacá-la. Então, ela sofre ataques dos dois lados. É muito difícil”, comenta.