Jornal Estado de Minas

O "homem-bomba" que denunciou propina na Petrobras está em casa

Beneficiado pela delação premiada, ex-diretor da Petrobras será monitorado por tornozeleira em sua mansão em condomínio de luxo no Rio com três empregados à disposição e um SPA

Paulo Roberto Costa (de costas) deixa a sede da Polícia Federal em Curitiba escoltado, em direção ao Rio de Janeiro - Foto: Albari Rosa/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Curitiba e Rio –
Escoltado por três viaturas da Polícia Federal, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa chegou ontem à sua mansão, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde cumprirá prisão domiciliar. Paulo Roberto será monitorado 24 horas por uma tornozeleira eletrônica e não pode sair do local, protegido por agentes federais, enquanto aguarda julgamento. O ex-diretor deixou a sede da PF em Curitiba, onde estava preso há três meses, às 13h15. Por volta das 16h, chegou ao Aeroporto do Galeão, na capital fluminense, e seguiu até a casa em uma Pajero preta, sob a escolta de três veículos e dois helicópteros.
Ao descer do carro na porta de casa, já com a tornozeleira, Paulo Roberto recebeu um abraço caloroso de sua mulher ainda na calçada. Suas duas filhas, citadas nas investigações como laranjas do ex-diretor, também o receberam. O condomínio onde ele cumprirá pena é arborizado e seguro, com cercas elétricas. Para entrar, é necessário se identificar em duas guaritas de segurança; o acesso é vigiado por câmeras.

Mesmo com toda vigilância, o ex-diretor não terá motivos para reclamar do cárcere. Em abril, detido em uma cela de 10 metros quadrados, Costa escreveu uma carta relatando maus tratos dos agentes penitenciários. Ele disse ter sido privado de banho de sol e até mesmo de acesso ao sanitário. Desta vez, o delator terá à sua disposição três empregados: uma cozinheira, uma faxineira e um caseiro, segundo vizinhos e trabalhadores do condomínio. No local, há quadras esportivas, bosques arborizados e um SPA. O fluxo na portaria é de veículos modelo SUVs, além de importados de marcas como Mercedes Benz, BMW e Porsche. Há cerca de um ano, um imóvel na rua à casa de Costa foi vendido por R$ 5 milhões.

O ex-diretor conseguiu cumprir pena em casa após colaborar com as investigações por meio de delação premiada. Ele teria delatado ao Ministério Público Federal (MPF) o nome de pelo menos 32 políticos envolvidos em esquema de desvio e recursos da Petrobras.

Costa pagou fiança de R$ 5 milhões para deixar a carceragem e cumprir com o acordo de delação. Também terá de pagar R$ 5 milhões de indenização e devolver bens aos cofres públicos, como uma lancha e um terreno em Mangaratiba, no Rio, ambos avaliados acima de R$ 1 milhão, que teria recebido do doleiro Alberto Youssef.

Alvo da Operação Lava a Jato e preso desde 11 de junho na capital paranaense, Costa fez acordo de delação premiada com a Justiça no fim de agosto, depois de saber que a PF poderia prender suas filhas. Ele prometeu revelar o que sabe sobre o esquema de desvio de dinheiro público em obras da Petrobras, em troca de uma pena mais branda. Pelo acordo, o ex-diretor da Petrobras também se comprometeu a devolver R$ 70 milhões aos cofres públicos, entre dinheiro e bens, por causa de sua participação em crimes cometidos na estatal

PROPINA Deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal, a Operação Lava a Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou cerca de R$ 10 bilhões, com ramificações na Petrobras. Os envolvidos, segundo a operação, eram responsáveis pela movimentação financeira e pela lavagem de ativos de diversas pessoas físicas e jurídicas, com a participação de doleiros.

Além de citar em depoimento o nome senadores, deputados e governadores, Costa confirmou o recebimento de propina no valor de US$ 23 milhões de uma empreiteira do exterior para facilitação de contratos com a Petrobras. Todos os políticos citados negam que tenham recebido recursos. A previsão é de que Costa retorne a Curitiba no dia 8 para novo depoimento à Justiça Federal sobre o escândalo envolvendo a Petrobras.

Enquanto isso...

…CPI vai ao Supremo


O presidente da CPI mista da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou ontem que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso à íntegra da delação premiada feita pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Vital do Rêgo disse que, até no máximo segunda-feira, a comissão vai enviar um ofício ao ministro Teori Zavascki reiterando o pedido. O senador está na Paraíba, onde disputa o governo do estado. A avaliação dos congressistas é de que a CPI, por ter poderes de investigação, já pode obter os depoimentos do ex-diretor a partir da homologação da delação. A comissão já havia aprovado um requerimento que permite à CPI o compartilhamento de todas as informações dos inquéritos e processos da Operação Lava a Jato. Na semana passada, uma comitiva da CPI reuniu-se com Zavascki, com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, para pedir cópia das declarações de Costa. O grupo recebeu de Zavascki e Janot a promessa de que vão ter acesso. Mas não ficou claro no encontro em qual momento processual isso vai ocorrer.