Bertha Maakaroun
Depois de declarar estar confiante em sua presença no segundo turno das eleições presidenciais, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, fez ontem, em Santa Luzia, um aceno político à candidata socialista Marina Silva, com quem disputa voto a voto a segunda posição na corrida. Questionado sobre quais seriam os aspectos que o diferenciam dela, Aécio declarou: “Ninguém é melhor do que ninguém. Tenho enorme respeito pela Marina, que disputa com dignidade uma oportunidade para dirigir o Brasil. Não há diferença entre nós”, disse.
Com o argumento da “experiência”, contudo, o tucano contrapôs sua candidatura à de Marina, deixando subentendida a ideia de que ela não está suficientemente preparada para o cargo: “Apenas o que tenho a oferecer ao Brasil é um projeto experimentado, um grupo político, pessoas altamente qualificadas em todas as áreas e a experiência de um governo exitoso. Acho que quadros qualificados e a experiência são essenciais nesta hora, para o enfrentamento das dificuldades que vamos ter pela frente. E os temos em nosso campo político de sobra”, disse, acrescentando ainda ter “liderança política” no Congresso Nacional, deixando implícito que a relação com o Parlamento seria, em seu eventual governo, conduzida com mais facilidade do que num governo de Marina Silva.
Aécio Neves tratou ainda de polarizar a disputa com a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), que ontem também encerrou a sua campanha em ato no Centro em Belo Horizonte. Depois de sugerir que a presidente é uma “visita” na cidade, Aécio afirmou com ironia: “A minha orientação aos meus companheiros é manifestarmos sempre a nossa tradicional hospitalidade a quem nos visita. Pena que ela não ficará muito tempo porque não vota em Minas Gerais. Mas vamos recebê-la como recebemos aqueles que vêm de outras partes do Brasil. E a minha intenção, como foi até aqui, será sempre debater ideias. Sou da escola tancrediana, quem deve brigar são ideias e não pessoas”.
Defendendo a explicitação de “regras claras” para o mercado no campo econômico, Aécio Neves criticou diretamente a petista. “O máximo que a atual presidente conseguiu nos apresentar foi quem será o seu futuro ex-ministro da Fazenda”, declarou, em referência ao fato de Dilma já ter anunciado que Guido Mantega não continuará no governo caso ela permaneça no Planalto. “Não se tem noção alguma de por qual caminho vai (a economia) se ela ganhar as eleições”, disse.
O tucano declarou que o efeito de sua eventual vitória nas eleições presidenciais será o oposto daquele verificado em 2002, quando Lula foi eleito presidente da República. “O efeito será o oposto, será o inverso daquele quando Lula venceu as eleições em 2002. Naquele primeiro momento, as incertezas eram enormes. Tivemos a disparada do dólar, a inflação saiu de 7,5% para 12,5%”, considerou. Segundo Aécio, aquilo que chamou de “efeito inverso” na macroeconomia caso eleito, seria “essencial” para retomar investimentos. “Podemos ter efeito contrário em relação a isso, o que será essencial para retormarmos investimentos, fazer o país voltar a crescer. Temos a redução da taxa de juros a longo prazo, para que possamos focar primeiro o centro da meta de inflação”, sustentou.
Pregando uma política econômica “previsível” – e nesse sentido explicou o motivo de ter anunciado Armínio Fraga como futuro Ministro da Economia, caso eleito – o tucano sustentou: “O que os mercados aguardam são regras. Querem saber como vai funcionar o futuro governo. O meu governo não será dos pacotes, dos planos mirabolantes. Será o governo da previsibilidade, pois isso é essencial para que o mercado, os investidores, possam resgatar a credibilidade do país e voltar a ser parceiros do desenvolvimento nacional”, disse, reiterando que pretende, até o fim de um eventual mandato, baixar a inflação a um nível menor do que a meta atual, de 4,5%.
Aécio Neves voltou a acusar o PT de “aparelhamento” do Estado e das empresas públicas. Ao refererir-se ao caso dos Correios, o tucano tratou de pedir votos para Pimenta da Veiga, candidato do PSDB ao governo de Minas: “Da mesma forma que a Petrobras foi utilizada ao longo de todo esse período para beneficiar um grupo político, os Correios estão sendo usados para beneficiar uma candidatura aqui em Minas. Vou reiterar que não queremos que em Minas Gerais as nossas empresas públicas, de excelência, cotadas em bolsa como a Cemig, referências no setor fora do Brasil, sejam aparelhadas de forma criminosa como foram os Correios”. Segundo Aécio, a eleição de Pimenta da Veiga em Minas seria “tão importante” quanto a sua própria eleição à Presidência da República. “Aqui em Minas, minha casa, minha causa, ao lado de Pimenta da Veiga, cuja eleição é tão importante quanto a minha eleição à Presidência da República, ao lado do governador Alberto Pinto Coelho (PP), do futuro senador (Antonio) Anastasia, vamos construir um tempo novo nesta terra abençoada. Mas também um tempo novo para todos os brasileiros.”
Campanha
Ao lado de Pimenta da Veiga, do candidato ao Senado Antonio Anastasia (PSDB) e do governador Alberto Pinto Coelho (PP), Aécio Neves fez campanha ontem na Região Metropolitana de Belo Horizonte, passando por Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Contagem e Betim. Nessas cidades, foi recebido por militantes com bandeiras, batuque, fogos de artifício e chuva de papel. O candidato participou de carreatas e andou entre militantes, que o cercavam para tirar fotos. Depois, retornou a Belo Horizonte, onde vota hoje. (Com Flávia Ayer e Leonardo Augusto)
Pimenta aposta em ‘momento histórico’
Em carreata ao lado do candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB), do governador Alberto Pinto Coelho (PP) e do candidato ao Senado Antonio Anastasia (PSDB), o candidato ao governo de Minas Gerais, Pimenta da Veiga (PSDB) disse em seu último pronunciamento de campanha, em Santa Luzia, que externou as suas ideias e que está convencido de que terá uma vitória em Minas. “Chegamos ao final com muita dignidade, com muito entusiasmo e muito convencidos de que amanhã poderemos mostrar ao Brasil uma importante vitória em Minas Gerais.”
O tucano declarou estar convicto também de que Aécio estará no segundo turno da disputa presidencial. “Quero agradecer a todos os mineiros, a todos os partidos, a todos os parlamentares, prefeitos, vereadores que estiveram conosco nesta grande caminhada. Eu acho que foi um momento histórico em Minas Gerais e que acabou mexendo muito com o Brasil. Então, a minha última palavra é esta: muito obrigado a todos”, assinalou. (BM)