O ex-ministro e candidato por duas vezes à presidência da República (em 1998 e 2002), Ciro Gomes (Pros), afirmou não ter se surpreendido com a vitória do tucano Aécio Neves sobre Marina Silva (PSB) nas pesquisas de intenção de voto às vésperas da eleição. Após votar em Fortaleza (CE), o atual secretário de Saúde do Ceará (na gestão do irmão Cid Gomes, também do Pros) chamou Marina de "vazia" e afirmou que entregar um país "complexo como o Brasil" a ela seria "extremamente temerário".
Nesta campanha, o ex-ministro já chamou Marina de "um vazio absoluto". O irmão, Cid, já classificou a ambientalista de reacionária e "canoa furada". Os Ferreira Gomes migraram para o Pros após romper com Eduardo Campos e o PSB (eles não concordavam com a candidatura do ex-governador de Pernambuco à presidência e queriam manter o apoio à presidente e postulante à reeleição, Dilma Rousseff, do PT). No começo de setembro, durante campanha em Sobral (reduto eleitoral dos Gomes), Marina ofereceu a "outra face" a Ciro. "A face do diálogo, a face do respeito, a face de quem acredita na democracia", disse, à época.
Nesta manhã, Ciro afirmou que a virada de Aécio não chega a ser uma novidade porque o tucano "representa organicamente o outro lado. A Marina era uma tentativa moralista difusa, de um difuso ambientalismo e uma difusa nova política. Esses são valores corretos aspirados por uma imensa quantidade de pessoas que já votaram em mim, mas entregar um país complexo como o Brasil para uma pessoa vazia como a Marina era altamente temerário". Apesar de apoiar Dilma, o ex-ministro (por duas vezes, nas gestões de Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva) não acredita que a eleição presidencial vá terminar hoje. "Tenho segurança de que vai para o segundo turno".
Na eleição para governador do Ceará, os Ferreira Gomes apoiam Camilo Santana (PT), que mais cedo votou em sua cidade natal, Barbalha, no Sul do Estado, acompanhado do governador Cid Gomes e do candidato à senador da chapa, Mauro Filho (Psol). À tarde, eles vão se juntar a Ciro em Fortaleza para acompanhar a apuração dos votos.
Ciro disse não confiar no resultado das pesquisas de intenção de voto, que apontam empate técnico entre Camilo e o candidato de oposição, Eunício Oliveira (PMDB), porém com o peemedebista numericamente à frente. "Aqui no Ceará, sempre que houve disputas acirradas, as pesquisas muito raramente conseguiram prognosticar o resultado. Para ser muito honesto e realista, acho que pode acontecer tudo. O meu estado de espírito é que o Camilo vai para o segundo turno com muita condição, talvez inclusive chegando em primeiro lugar", disse Ciro, que votou com uma camisa amarela (a cor do Pros, também usada pelo petista Camilo na campanha) e um adesivo de seu candidato no peito.
O ex-ministro negou uso de máquina pública em favor do candidato dos Gomes. Também rebateu a crítica de Eunício, hoje, ao votar, de que Ciro teria abandonado a secretaria de Saúde, mas não o salário. "Eu não deixei a secretaria de Saúde, não. Estou trabalhando. Não fiz um ato de campanha sequer no expediente", disse o secretário que, ao contrário do irmão governador, não se licenciou do cargo. Esta semana, Ciro entregou ambulâncias pelo interior do Estado e inaugurou uma Unidade de Pronto Atendimento. Perguntado se isso não seria propaganda irregular em favor do candidatado apoiado pelo governo, negou: "Não houve uma semana desde que assumi em que não houvesse um evento (de inauguração). Eu não ia parar, também". E depois ironizou: "Tem de escolher a crítica, se é porque eu trabalho muito ou pouco, né?".