Jornal Estado de Minas

Eleições ocorreram em meio aos selfies

Clima de tranquilidade imperou, mas preocupação foi com as fotos das urnas

Zulmira Furbino Paula Takahashi
Apesar da orientação do TSE sobre a proibição, vários internautas postaram selfies no site durante a votação de ontem - Foto: Reprodução/Internet
A sétima eleição direta depois da reinstalação da democracia no Brasil, em 1984, realizada ontem, foi marcada pelo clima de tranquilidade no país e pela descoberta de novos desafios, como a necessidade de fiscalizar os eleitores-internautas na hora do voto e a urgência de controlar a distribuição de santinhos pelos candidatos nas vésperas do pleito. Apesar das orientações em contrário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a postagem ilegal de selfies nas redes sociais no momento do voto preocupou o presidente da instituição, ministro Ricardo Dias Toffoli. Por outro lado, por causa das ruas cobertas de tapetes de santinhos, que espalharam sujeira pelo chão das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras, uma eleitora idosa se feriu, uma mulher escorregou e desmaiou e funcionários dos Tribunais Regionais Eleitorais tiveram de varrer as ruas para permitir que os eleitores entrassem em zonas eleitorais.
As imagens dos internautas votando apareceram ontem num site (https://selfienaurna.tumblr.com), que registrou dezenas de eleitores divulgando seu voto. A prática é considerada crime eleitoral e, segundo a legislação, pode dar até dois anos de prisão. O Ministério Público vai investigar os casos. Em entrevista coletiva no início da tarde de ontem, Dias Toffoli mostrou-se preocupado com a prática. “Analisaremos e aprimoraremos essa fiscalização. Não fazemos revista dos eleitores e não há condições de colocar detector de metal em cada seção. A principal preocupação com as selfies é a venda do voto. O eleitor pode levar esse registro ao 'comprador' e confirmar que votou naquele candidato”, explicou. Entre os que cometeram o “deslize” estão o humorista Hélio de la Peña (ex-Casseta e Planeta) e a empresária Paula Lavigne, ex-mulher do cantor Caetano Veloso. Os dois apagaram as imagens depois de serem alertados por seguidores.

Em São Carlos, a 232 quilômetros de São Paulo, uma mulher de 70 anos caiu e teve um ferimento na cabeça depois de escorregar em santinhos de candidatos em frente à escola do Bairro Vila Neri, onde iria votar. O acidente aconteceu na manhã de ontem e, segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência(Samu) ela teve um ferimento na testa, foi atendida no local e depois levada para a Santa Casa da cidade. De acordo com o Samu, o ferimento não foi grave. Depois da queda da idosa, o entorno da escola foi limpo e os santinhos foram retirados.

Em Curitiba, uma mulher escorregou nos santinhos espalhados pelo chão, caiu e desmaiou, ao se aproximar do colégio estadual onde votaria. Em Belo Horizonte, para evitar que as pessoas escorregassem, funcionários da Justiça Eleitoral tiveram de varrer e recolher grande quantidade de papel na entrada da Escola Estadual Leopoldo de Miranda, no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul, local de votação. A sujeira tomou conta das ruas da capital mineira durante a madrugada, quando milhares de santinhos foram despejados em várias partes da cidade, principalmente nas portas das escolas onde haveria votação. Em São Paulo, a idosa Clarestina Maria de Jesus foi votar vestida de palhaço, segundo ela, como forma de protesto.

NÚMEROS
Ao todo, segundo o boletim eleitoral do TSE, 80 candidatos foram presos por crime eleitoral no país, a maioria no Rio, e 1.209 pessoas foram presas. Em Minas, três candidatos foram presos: Hélio Machado (PP), por transportar eleitores; Luciene Maria Fonseca (PPS), flagrada em boca de urna e Gudão (PT do B), também por boca de urna. O principal delito foi a propaganda eleitoral, seguido pela compra de votos. Durante o dia, no estado, 123 pessoas foram presas por crimes eleitorais e foram registradas 426 ocorrências, sendo 291 envolvendo eleitores e 135, candidatos. Em Brumadinho, na Grande BH, Patrícia Helena Zolini, 41 anos, mesária em uma seção na Escola Cema, foi presa por entregar papel com número de candidato a uma eleitora. Segundo informações da Polícia Militar, ela teria confessado a boca de urna.