Brasília – Menos de 24 horas após a definição do segundo turno na corrida eleitoral, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, usou as redes sociais e convocou uma coletiva de imprensa para intensificar os ataques ao seu adversário Aécio Neves (PSDB), dando o tom do que será a campanha durante o segundo turno. A candidata voltou a dizer que o tucano representa uma volta ao passado e que a “realidade se imporá”.
Para Dilma, os dois partidos que continuam na disputa já governaram o país e por isso será possível, além de comparar os planos de governo de cada um, fazer ainda uma comparação entre os governos anteriores. A candidata fez questão de dizer que quando se refere “aos fantasmas do passado” está falando sobre as gestões do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Quando eu digo que voltam os fantasmas do passado, estou me referindo ao que ocorreu durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Diante da crise, quebraram o país três vezes. As taxas de juros foram as mais elevadas no Brasil em períodos pós plano real. Praticaram taxas de juros de 45%”, afirmou na coletiva realizada no fim da tarde de ontem, no Palácio da Alvorada.
Em coletiva de imprensa concedida ontem, em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, onde obteve a maior votação neste primeiro turno, Aécio disse que os “brasileiros estão muito preocupados são com os monstros do presente: inflação alta, recessão, corrupção”. Questionada sobre as declarações do rival, Dilma respondeu: “Comparem a minha recessão com a dele e compare os monstros do passado com o que está acontecendo no meu governo. Ele pode usar a retórica, mas a realidade se imporá”.
Mirando mais uma os tucanos, Dilma afirmou que a indicação de Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda é um “complicador” para Aécio. “Porque foi justamente no período em que Armínio Fraga era presidente do Banco Central que a inflação saiu por duas vezes do limite superior da política de metas: em 2001, a inflação foi a 7,7% e 2012 a 12,5%. Além disso, foi também na gestão do Armínio Fraga que nós tivemos a maior taxa de juros desse período, 45%”, disse a petista. “E isso é uma coisa muito complicada, então cada um opta pelo que quiser. Eu tenho um governo, estou fazendo um governo, os números do meu governo são claros.”
A campanha da presidente Dilma pretende usar o ex-presidente do Banco Central como personificação da crítica à política econômica proposta pelo tucano. No debate da TV Globo, a presidente já usou Armínio para atacar Aécio: “O atual indicado pelo senhor para ser o seu eventual ministro da Fazenda é aquele que praticou taxa de inflação acima do limite superior da meta, 7,7% em, em 2001. E em 2002, 12,5. (...) Vocês desempregaram 12,5%. (...) Vocês tiveram ao mesmo tempo uma taxa de juro que bateu todos os recordes durante a gestão Armínio Fraga, 45%. Vocês tiveram a capacidade de colocar o Brasil de joelhos diante do Fundo Monetário Internacional”.
Aaques pelas redes sociais
No fim da manhã, Dilma publicou em suas páginas do Facebook e do Twitter críticas diretas ao PSDB. Ela escreveu mensagens em que reapresenta propostas para um eventual segundo mandato. Ao falar de economia, Dilma disse que irá melhorar o setor, “mas sem desempregar ou fazer arrocho salarial, como fez o governo do PSDB”. Em seguida ela diz que “o povo brasileiro não quer de volta aqueles que trouxeram o racionamento de energia”. Em outra referência direta aos governos do PSDB, Dilma afirma que irá produzir as “mudanças necessárias na condução da política econômica. Mas não deixará voltar o tempo em que a riqueza do país não era distribuída e as crises eram combatidas às custas do trabalhador e de seu emprego e salário”.
Telefonema e alianças
Dilma considerou o telefonema dado por Marina Silva (PSB), terceira colocada na disputa à Presidência, como “extremamente gentil e civilizado”. “Ela me cumprimentou pela eleição e eu disse que eu tinha certeza que nós lutávamos por melhorar o Brasil, em que pese as nossas diferenças”, disse. Marina ligou para Dilma e Aécio no início da manhã de ontem. A conversa, segundo assessores da ex-senadora, foi protocolar, em que Marina parabenizou os adversários pelo desempenho mas não tratou de um eventual apoio a nenhum dos dois.
Na coletiva, Dilma evitou falar sobre possíveis alianças com Marina ou com o PSB. “Acho que seria uma temeridade falar hoje sobre como seria uma temeridade qualquer fala a respeito de como será o apoio no futuro. É óbvio que muitas vezes os apoios não dependem só de uma pessoa. São decididos por várias instâncias”, disse.
Bolsa de valores
Após o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, disparar mais de 5% durante o dia, e a cotação do dólar norte-americano cair com o resultado do primeiro turno das eleições, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) disse ontem, em coletiva no Palácio da Alvorada, que investidor “não ganha eleição”. “Eu desconfio que os investidores podem fazer tudo, mas não ganham uma eleição. Quem ganha e vota no Brasil chama-se povo brasileiro”, disse Dilma, respondendo a uma repórter sobre a torcida de investidores por uma vitória do candidato do PSDB.
Pesquisas eleitorais
Dilma negou que tenha ficado frustrada com o resultado do primeiro turno – pesquisas de boca de urna apontavam uma vantagem maior da petista sobre o tucano. “Eu não (fiquei frustrada), eu esperava direitinho, sabe por quê? Nós não achamos e não acreditamos nessa infalibilidade das pesquisas, né? Não acreditamos nisso, até porque a gente tem um histórico de algumas coisas surpreendentes que acontecem na eleição. Por exemplo, lá na Bahia, que pela terceira vez consecutiva, em eleições para governador, o candidato que é tido e havido como perdedor ganha no primeiro turno”, comentou a presidente, citando a vitória do candidato do PT, Rui Costa. “Vocês me desculpem, mas eu acho que pesquisa é uma referência, eu sempre digo que não comento (pesquisa), acho que ela é para analista. Nós usamos várias outras informações além das pesquisas. Muito obrigada”, afirmou, encerrando a entrevista.
Estratégia de campanha
Dilma passou o dia reunida com integrantes da cúpula da sua campanha eleitoral. A principal preocupação dos petistas está no Estado de São Paulo, onde Aécio teve um expressivo resultado – 44,2% dos votos, enquanto a presidente ficou com 25,8%. O desempenho só não foi pior porque o ex-presidente Lula entrou na campanha na reta final. Nos últimos dias antes da eleição de domingo, Lula fez uma verdadeira maratona de atividades em São Paulo, ao lado do candidato do PT ao governo estadual, Alexandre Padilha, que ficou em terceiro lugar.
Hoje, a presidente se reunirá à tarde, em um hotel em Brasília, com todos os governadores e senadores da base aliada eleitos em primeiro turno e com candidatos a governos em estados onde não há racha na base. O evento será uma clara demonstração de força da candidata. Ela vai pedir o empenho de cada uma para se reeleger e também vai lembrar que, mesmo os reeleitos, não deve se desmobiliza, não fechar seus comitês completamente.
Dilma acha que consegue melhorar sua performance em muitos desses estados. O foco da petista, como no final da campanha, será assegurar a vantagem sobre Aécio Neves, em Minas Gerais, onde não quer perder um só voto, e conta com um importante aliado: o governador eleito pelo PT, Fernando Pimentel, seu amigo pessoal. A campanha vai dar atenção especial também ao Rio de Janeiro e São Paulo, onde obteve a metade dos votos de Aécio, além dos estados do Sul
No Nordeste, a atenção será voltada para Pernambuco, onde Dilma conseguiu 44%, mas foi ultrapassada por Marina, que obteve 48%. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma quer conseguir os votos dos pernambucanos.
Bolsa-família pesa no voto
Criado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e transformado em uma das principais bandeiras da gestão petista, o Bolsa-Família teve mais impacto para ajudar a presidente Dilma Rousseff (PT) a ampliar sua vantagem sobre os adversários nas eleições de ontem do que no primeiro turno de 2010. Neste ano, os 150 municípios com maior cobertura do programa federal (famílias atendidas em relação ao total de habitantes) deram à presidente uma votação média de 77,8% dos votos, ou 36,2 pontos percentuais acima da média nacional, de 41,6%. Essa vantagem ficou 7,3 pontos acima da que a que ela obteve na eleição anterior. No primeiro turno de 2010, a votação de Dilma nesses municípios foi de 75,8% e ficou 28,9 pontos acima da média nacional, de 46,9%.
EVARISTO SÁ/AFP