Os institutos de pesquisa cometeram erros nas estimativas de votos extraídas dos levantamentos de boca de urna, aqueles em que o eleitor já registrou a sua preferência na urna eletrônica, e, portanto, não há mais a possibilidade de mudança de opinião. Os intervalos de confiança, que consideram as margens de erro das estimativas divulgadas ontem pelo Ibope para candidatos da corrida presidencial e das eleições para os governos do Rio de Janeiro, da Bahia e do Rio Grande do Sul, estão fora dos resultados reais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A pesquisa de boca de urna do Ibope informou ontem que Dilma Rousseff teria 44% dos votos, mais ou menos uma margem de erro de dois pontos percentuais. Abertas as urnas, Dilma deveria ter entre 43,5% e 44,5% dos votos válidos, uma vez que a margem de erro máxima para 64.200 entrevistas, dentro de um nível de confiança de 99%, é de 0,5 ponto percentual. Considerando a margem de 2 pontos percentuais informada pelo Ibope, o intervalo de confiança para a estimativa de votos de Dilma se amplia: consolidadas as urnas, ela deveria ter entre 42% e 46%. A presidente ficou com 41,59%. Também o intervalo de confiança para os votos de Aécio Neves (PSDB) indicados por esta mesma pesquisa de boca de urna não trouxeram os resultados reais das urnas. Aécio Neves teria 30%, ou seja, entre 28% e 32% segundo a margem de erro informada de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Obteve 33,55%. Vale lembrar que até a última semana o candidato de PSDB não ultrapassou os 20 pontos nas pesquisas do Ibope.
Rio, Bahia e Sul No Rio de Janeiro, a pesquisa de boca de urna com 5 mil entrevistas e um nível de confiança de 99% sugeria que o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) teria 34% dos votos, ou seja, entre 32% e 36%. Conseguiu 40,57%. Já o deputado federal Anthony Garotinho (PR), que obteria, de acordo com o Ibope, 28% dos votos – algo entre 26% e 30% – nas urnas ficou com 19,75%. O senador Marcelo Crivella (PRB), que foi para o segundo turno, apareceu na pesquisa de boca de urna com 18% dos votos – teria entre 16% e 20%. Ao final da apuração, conquistou 20,26%.
Na Bahia, o candidato ao governo Rui Costa, obteria, segundo a pesquisa de boca de urna, também com 5 mil entrevistas, 49% – ou seja, entre 47% e 51%. Rui Costa venceu em primeiro turno com 54,53% dos votos. Da mesma forma, no Rio Grande do Sul, a pesquisa de boca de urna, com 5 mil eleitores, deu a José Ivo Sartori (PMDB), 29% dos votos – entre 27% e 31%. Ele ficou com 40,4%. Já o governador Tarso Genro (PT), que teria 35% das preferências – algo entre 33% e 37% – conquistou nas urnas 32,57%. A senadora Ana Amélia (PP), teria entre 24% e 28% dos votos. Na urna, obteve 21,79%.
Os erros de estimativas nas pesquisas de boca de urna no domingo passado extrapolam a política e reacendem uma antiga reclamação das emissoras que têm contratos com o Ibope – único que possuía no país o equipamento People meter para mensurar a audiência. O SBT, a Record, a Rede TV e a Bandeirantes contrataram a alemã GFK para este trabalho. “As emissoras brasileiras são clientes habituais do Ibope, com contratos de longa data. Sempre houve insatisfação com a confiabilidade dos dados, sobretudo porque consideramos que a amostra para as pesquisas de audiência é muito pequena. Ao mesmo tempo, o preço pago é astronômico”, afirma fonte ligada a uma emissora de TV. “Por isso a concorrência é tão importante”, acrescenta.
Cresce número de abstenções
Marcelo da Fonseca
O número de eleitores que não compareceram às urnas no primeiro turno da eleição presidencial foi o mais alto desde o pleito de 1998. No domingo, mais de 27,7 milhões de cidadãos não foram às zonas eleitorais, uma abstenção de 19,4% do eleitorado brasileiro. Somados aos 4,4 milhões de eleitores que votaram em branco e mais 6,6 milhões que anularam o voto, 38,7 milhões de eleitores preferiram não escolher um candidato à Presidência da República. Esse número representa 27% dos 142,8 milhões de eleitores no país, quantidade superior à votação do segundo colocado na disputa pelo Palácio do Planalto, o senador Aécio Neves (PSDB), que recebeu 34,8 milhões de votos.
De acordo com dados divulgados ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o alto número de eleitores que preferiram não participar da disputa em 2014 superou as abstenções das últimas três eleições presidenciais. Em 2002, a abstenção era de 17,7%, caindo para 16,7% na eleição seguinte, em 2006. Desde a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o número de ausentes passou a crescer. Em 2010, a abstenção foi de 18,1% e neste ano chegou a 19,4%. O percentual só ficou abaixo do registrado na última eleição da década de 1990, na reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o TSE registrou 21,4% de ausentes.
Em relação aos votos nulos e brancos, o tribunal registrou novo aumento nos índices quando comparados com a última eleição, em 2010. Em 1998, foram registrados os maiores índices de votos brancos e nulos, com 8% e 10,6%, respectivamente. Os números caíram significativamente na eleição de 2002, quando 3% dos eleitores votaram em branco e 7,3% anularam seus votos. Em 2006, o percentual de brancos foi de 2,7% e o de nulos ficou em 5,6%. Nas eleições de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) foi eleita, o número caiu ainda mais, com 2,5% em branco e 5,5% nulos. No primeiro turno deste ano, os percentuais de votos brancos e nulos subiram para 3,8% e 5,8%, respectivamente.
O Maranhão foi o estado com o maior índice de abstenção, com 23,6% dos eleitores deixando de comparecer às urnas. O segundo estado com a maior abstenção foi a Bahia, também na Região Nordeste, onde 23,2% não votaram. Na outra ponta do ranking, o Amapá foi o estado que registrou o menor nível de abstenção, com apenas 10,4% do eleitorado ausente. Em seguida vem o Distrito Federal, com 11,6% de faltas no primeiro turno. Em Minas, dos 15,2 milhões de eleitores aptos para votar, o número de abstenções foi de 3 milhões – 20% do total.