São Paulo - Apontado pela maioria dos parlamentares da atual legislatura como forte candidato para ocupar a presidência da Câmara em 2015, o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), vê o crescimento de bancadas classificadas pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como 'conservadoras' como um retrato fiel da população brasileira.
O líder peemedebista, um dos mais atuantes da bancada evangélica e integrante da igreja Sara Nossa Terra, considera que a maior parte da população é contra o aborto, o casamento de pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do uso de drogas.
Por isso, depois das manifestações de junho de 2013, elas passaram a pensar mais em suas convicções e em quem as representa. Mas Cunha defende a atuação parlamentar com isenção. "Sobre o papel de dar direitos e resolver problemas, não é um Congresso conservador ou reformista que vai mudar isso. O que se discute sob esse ponto de vista são outros problemas", disse.
Cunha, contudo, avalia que temas de identificação mais liberal, sob o ponto de vista dos direitos sociais, devem sofrer restrições na próxima legislatura. "O fato de a própria natureza do Congresso ter ficado mais conservadora, já impede o avanço dessas pautas", afirmou.
O cientista político Humberto Dantas, do Insper, considera o aumento de parlamentares menos progressistas como reflexo da "tomada de conta de algumas agendas" políticas pelo medo de eleitores que se viram ameaçados pelo avanço de temas contrários ao seu posicionamento ideológico.
Dantas avalia a marca de quase 500 mil votos atingida pelo presidenciável Levy Fidélix (PRTB) neste ano, contra cerca de 70 mil em 2010, como resultado das declarações dele sobre o casamento gay nos debates televisivos. "Foi o posicionamento dele que levou a essa votação expressiva", observou.
O diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz, afirma que, diante do aumento de bancadas de perfil conservador, o debate sobre a descriminalização do aborto, criminalização da homofobia e o casamento gay - temas que ganharam força nas eleições presidenciais deste ano - tem pouca chance ser retomado pelo Congresso que toma posse em fevereiro de 2015. "Posso afirmar com segurança que houve retrocesso em relação a essas pautas", indicou.
Já o debate sobre a redução da maioridade penal, segundo o diretor do Diap, questionada por especialistas de segurança pública, pode avançar a partir do aumento da chamada 'bancada da bala', formada parlamentares ligados a setores policiais, militares e da indústria de armas.
O Diap está fazendo pela primeira vez um mapeamento desse grupo e, até agora, já foram identificados 20 deputados que podem ser enquadrados nesse quadro. "O novo Congresso é, seguramente, o mais conservador do período pós-1964", disse Queiroz.