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Estado de Minas

Ex-diretor da Petrobras cita propina a PT, PMDB e PP

Paulo Roberto Costa, que era funcionário de carreira da estatal, afirmou que chegou ao cargo com a missão de montar um esquema de propinas para políticos


postado em 09/10/2014 10:07 / atualizado em 09/10/2014 14:32

Curitiba - O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmou nesta quarta-feira, 8, em depoimento à Justiça Federal no Paraná que pagou propinas ao PT, ao PMDB e ao PP. Ele declarou que o esquema financiou a campanha eleitoral de 2010 de parlamentares e partidos.

Costa depôs durante duas horas, em Curitiba, no processo em que é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Disse que foi indicado para o cargo, em 2004, pelo então deputado José Janene (PP-PR) - morto em 2010, Janene foi réu no processo do mensalão do PT, no Supremo Tribunal Federal.

O ex-diretor da Petrobras, que era funcionário de carreira da estatal, afirmou que chegou ao cargo com a missão de montar um esquema de propinas para políticos. Ele declarou que os pagamentos para os partidos eram divididos na proporção de "1% para um e 2% para outro" - sobre valores superfaturados de contratos da Petrobras com empreiteiras e fornecedores.

O ex-diretor é personagem central da Operação Lava Jato, deflagrada em março. Durante oito anos ele ocupou o cargo estratégico na estatal. De acordo com a Polícia Federal, Costa e o doleiro Alberto Youssef são os mentores de organização criminosa que se infiltrou em órgãos públicos.

Costa fez delação premiada ao Ministério Público Federal, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do STF. Em troca de revelações, ele espera ter a pena reduzida. Nos depoimentos no âmbito da delação, citou, além dos partidos, nomes de políticos.

Nessa quarta-feira, Costa não mencionou os nomes porque estava falando à Justiça Federal de primeira instância. Se citasse alguém, o caso teria de ser remetido ao Supremo, que tem competência exclusiva de processar parlamentares.

Colegas

Costa apontou nomes de outros diretores e ex-diretores da Petrobras que, segundo ele, faziam parte do esquema. Afirmou que recebeu "pessoalmente de Sérgio Machado (presidente da Transpetro) a quantia de R$ 500 mil". Citou Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional da empresa.

Youssef também depôs ontem. O doleiro, que também fez delação premiada, e Costa revelaram valores da propina, como o esquema era operado e onde eram feitas as reuniões do grupo, além de indicarem atas, notas fiscais e outros documentos que, segundo eles, confirmam quem pagava e quem recebia.

Os dois deram detalhes das offshores por onde transitaram valores da corrupção e as contas. "Não é depoimento de ouvir dizer, várias vezes eles (Costa e Youssef) disseram 'eu sim', 'eu fiz', 'conversei', 'estive'", relatou o criminalista Figueiredo Basto, que defende Youssef e acompanhou a audiência.

Costa afirmou que em "outras diretorias" da Petrobras também havia esquema de propinas. "Havia um esquema de grupos atuando na Petrobras, cada um com seus interesses, cada um com seu operador." Ele e Youssef negaram serem os líderes da organização.

"Os líderes estão fora desse processo, são agentes políticos, não são as empresas também", afirmou Youssef, segundo seu advogado. "O Paulo (Costa) deixou bem claro que esse esquema financiou a campanha de 2010, só não pode dizer de quem, mas de muita gente."

O ex-diretor citou empreiteiras que teriam pago comissões, como a Camargo Correa. "As empresas e fornecedores estavam submetidas até à quebra se não pagassem propina. Quem não paga não participa."

Além de Machado e Cerveró, ele apontou os nomes de outros ex-diretores da Petrobras - Renato Duque (Engenharia), José Eduardo Dutra (BR Distribuidora) e Jorge Zelada - que manteriam esquemas paralelos de propina na estatal, alguns em cruzamento com o esquema movimentado por ele e Youssef. Costa afirmou que não tinha autonomia na Petrobras para promover desvios.

Por seus assessores, o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, revelou indignação. "Essa história é uma maluquice. Nunca houve nada disso." O jornal O Estado de S. Paulo solicitou à noite manifestação da Petrobras e dos ex-diretores. Não houve retorno. O Consórcio CNCC, controlado pela Camargo Correa, informou que "não teve acesso ao depoimento e repudia qualquer acusação de atuação irregular".


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