Jornal Estado de Minas

Duelo entre Aécio e Dilma busca reforçar domínios e avançar no campo adversário

Paulo Silva Pinto João Valadares

- Foto: Arte EM

Brasília – Passado o primeiro turno das eleições presidenciais e a consolidação das cidadelas eleitorais de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), os estrategistas e os exércitos de cada um dos oponentes definem como atacar as fortalezas adversárias no segundo turno. Com votação melhor no Sul e no Sudeste, o tucano quer garantir seu eleitorado nessas regiões e buscar o voto de Marina no Nordeste, assegurando que não vai acabar com os programas sociais. Já a petista quer melhorar ainda mais a votação no Nordeste.

A prioridade não significa que outros pontos do país serão deixados de lado, apenas que é fundamental concentrar as ações em locais com mais chances de êxito, uma vez que o segundo turno das eleições dura apenas três semanas. “No Nordeste, vamos nos concentrar em Pernambuco, na Bahia e no Ceará. Não esqueceremos, claro, de São Paulo e do Sul, além dos debates na televisão”, disse um dos generais da campanha dilmista.

A própria Dilma admitiu, durante encontro com aliados na terça-feira, que não teve votos em São Paulo. Pessoas próximas a ela tentam minimizar os resultados ruins no maior colégio eleitoral do país, lembrando que ela venceu Aécio em Minas – reduto tucano –, e o PT conquistou o governo local, com Fernando Pimentel.

Mas a avaliação corrente é bem menos otimista. O próprio PT não tem grandes esperança de conseguir muito mais votos em São Paulo do que os obtidos no primeiro turno. Os petistas mais cautelosos entendem que os votos dados a Marina e a outros candidatos tendem a ser destinados a Aécio. Por isso, o partido quer apenas manter o pouco que conseguiu no estado e lutar para ampliar a votação na Região Nordeste.

Os redutos dilmistas também parecem quase inexpugnáveis para os exércitos tucanos. “No Nordeste, é difícil (a oposição crescer). O povo, sobretudo no sertão, depende muito do governo. Mesmo assim, esperamos que Aécio tenha 35% dos votos no Ceará”, disse o senador eleito pelo estado, o tucano Tasso Jereissatti. Para o PSDB, seria um resultado muito melhor do que o obtido por José Serra no segundo turno em 2010 – 22,65%.

Aécio esteve ontem no Recife ao lado da viúva de Eduardo Campos (PSB). A imagem, simbólica, tenta alavancar a candidatura do PSDB no estado, aproveitando a comoção que levou os pernambucanos a elegerem, em primeiro turno, Paulo Câmara (PSB) para o Palácio das Princesas. “Aécio terá pelo menos 70% dos votos que foram destinados a Marina no estado”, aposta o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Renata, inclusive, na opinião de lideranças tucanas, poderia acompanhar Aécio em agendas em outros estados da região, já que é forte a tendência de que, mesmo apoiando o tucano, Marina Silva não suba nos palanques ao longo deste segundo turno. Para atrair mais a atenção do eleitorado nordestino, Aécio também espera contar com a presença na campanha de pessoas famosas, com grande apelo popular, como o cantor Zezé di Camargo e o ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno.

Aecista de primeira linha, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) disse que o esforço será para mostrar que “esse Brasil que aparece na propaganda de tevê do PT não existe. O trecho cearense da ferrovia transnordestina não teve um metro de trilho implantado neste governo”, disse Danilo.

- Foto: Arte EMPROTEÇÃO SOCIAL
Para Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), ligada à FGV-Rio, o candidato que conseguir unir o discurso do equilíbrio econômico com a manutenção das redes de proteção social terá êxito nesse segundo turno. Ele discorda da avaliação corrente no atual debate político de que há um processo de divisão entre os partidários das duas bandeiras eleitorais. “A população não quer inflação, mas também não quer perder as proteções. E essas não são apenas ligadas ao Bolsa Família, mas também ao SUS e à Previdência Social, por exemplo”, afirmou Pereira.

Ele reconhece, contudo, que cabe a Dilma mostrar que não é leniente com a inflação, e a Aécio, que um governo tucano não vai extinguir os programas e ações destinados aos mais pobres. E acrescenta que, nesse ponto de vista, o candidato tucano leva um pouco mais de vantagem. “Aécio não pode ser acusado de desequilíbrio nas contas públicas, pois enfrenta uma candidata à reeleição. Por outro lado, esse eleitorado dependente dos programas sociais não pode ser rotulado como petista. Ele é governista, no sentido de que tenderá a apoiar os governantes que mantiverem as ações voltadas aos mais necessitados”, disse o professor da Ebape.