Para integrantes da ADPF ouvidos pela reportagem, a medida atende a categoria mas foi feita nitidamente para segurar mais uma notícia negativa para a campanha de Dilma a poucos dias das eleições – a exemplo da semana passada, como os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que acusou PT, PMDB e PP de obterem comissão sobre contratos superfaturados por cartel de empreiteiras na estatal.
O diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que representa agentes e papiloscopistas, estranhou a ação do governo “na calada da noite”. “É muito estranho que essa MP tenha sido criada na calada da noite, às vésperas do segundo turno, e num momento tão delicado como esse”, disse o diretor da entidade, Flávio Werneck. “Não posso afirmar categoricamente que se trata de uma troca de favores, mas que é muito estranho, isso é.”
A oposição, que também não apareceu na reunião, criticou o governo. “O Planalto se lembrou, a 12 dias das eleições, dos pedidos antigos da categoria, liberou medida provisória, e ainda vai mandar delegados de todo o Brasil para colaborar com as investigações da Operação Lava a Jato em Curitiba”, afirmou o líder do Solidariedade na Câmara, deputado Fernando Francischini (PR), representante dos delegados no Congresso.
O presidente da ADPF, Marcos Leôncio, diz que apareceu no encontro, marcado para as 11h, e lá permaneceu à espera da audiência de parlamentares até as 11h15. Foi avisado depois que tudo estava cancelado por falta de quórum. “Me avisaram que não haveria parlamentares suficientes para a comissão”, disse à reportagem.
DESDE 2009 O governo, porém, negou atuação política. O secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Gabriel Sampaio, disse que a medida atende a “critérios republicanos e que atendem as associações” e possui os “requisitos do interesse público”.
O texto da medida provisória também estava presente em emendas derrubadas na semana passada pelo Congresso. Com a MP, os delegados obtêm a garantia de que continuarão a ser os únicos nomeados para importantes cargos de chefia na PF, como a diretoria-geral. Também será exigido no concurso público da carreira um mínimo de três anos de atividade jurídica ou policial do candidato. (Colaboraram EM e AS).