São Paulo - A menos de duas semanas da eleição, os principais economistas do país das mais respeitadas instituições brasileiras e estrangeiras travam uma batalha pelas candidaturas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). O pano de fundo é a forma como deve ser conduzida a política econômica nos próximos quatro anos.
A reação do outro lado foi na forma de um manifesto assinado na terça-feira por 164 profissionais da área. O objetivo, segundo o texto, é "desconstruir um dos inúmeros argumentos falaciosos ventilados na campanha eleitoral". Assinam o manifesto nomes como Eduardo Zilberman, Vinícius Carrasco e Carlos Viana, ambos ligados ao departamento de Economia da PUC-Rio, de onde saíram economistas próximos do PSDB, como Pedro Malan e Edmar Bacha, entre outros.
Também faz parte da lista o professor do Insper Marco Bonomo, que apoiava a candidatura de Marina Silva (PSB) no 1.º turno.
A condução da política econômica é um dos principais alvos das críticas feitas à administração da presidente Dilma. O atual governo é apontado como responsável pelas menores taxas de crescimento da história do país e, ainda assim, de não conseguir domar nem a inflação nem a fuga de investimentos.
Seu adversário, Aécio Neves (PSDB), tem usado o desempenho brasileiro na economia como arma para minar a oponente. "A senhora é a primeira presidente a entregar o governo pior do que encontrou", disse ele em um dos debates realizados antes do 1.º turno.
O tucano propõe o retorno da política econômica do Plano Real, com a retomada do tripé econômico (superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação) - diretriz que foi adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mas abandonada por Dilma.
Em resposta, a presidente justifica o baixo rendimento brasileiro afirmando que o Brasil enfrenta forte crise internacional sem arrochar salários nem aumentar o desemprego. E alega que os governos tucanos "quebraram o País três vezes", quando tiveram que recorrer ao FMI para sanar as contas do País.
No documento de apoio à reeleição da candidata petista, divulgado na segunda, economistas argumentam que "dificuldades conjunturais existem e devem ser enfrentadas com firmeza, fazendo correções e ajustes sempre que necessário".
O texto, entretanto, pondera ao dizer que isso não pode servir de pretexto para o retorno a políticas econômicas do passado, "que se voltavam apenas para uma parcela da população e, diante dos problemas, impunham à maioria o preço da recessão, do desemprego, do arrocho salarial e do corte dos investimentos sociais".
Um dos organizadores da lista de apoio à reeleição de Dilma, o economista Belluzzo, que também é professor da Unicamp e Facamp, diz que a iniciativa faz parte do jogo democrático e está de acordo com a tradição de intelectuais que colocam a economia no contexto histórico.
Ele afirma que, mesmo com as críticas que tem feito ao atual governo, principalmente pela dificuldade em manter a inflação sob controle, apoia a candidata que tenta a reeleição. "Com todas as observações, concordo com a orientação central, que tem como meta a redução da desigualdade e o avanço das camadas de menor poder aquisitivo", disse.
Já no "Manifesto de Professores Universitários de Economia", divulgado nessa terça-feira, o governo é acusado de usar "argumentos falaciosos" ao tentar se eximir da responsabilidade pelo "desempenho econômico pífio e colocar a culpa a crise internacional".
Segundo o texto, "os avanços sociais obtidos com muito sacrifício ao longo das últimas décadas estão em risco". "Neste cenário de baixo crescimento e inflação alta, a semente do desemprego está plantada", afirma.
O manifesto traz, ainda, um mapa comparando o crescimento econômico do Brasil com vizinhos latino-americanos. "É emblemático que, dentre os países da América do Sul, apenas Argentina e Venezuela devem crescer menos que o Brasil em 2014", diz um trecho.
Um dos organizadores do manifesto, o professor da PUC-Rio Eduardo Zilberman disse que a iniciativa partiu de mestres incomodados com o debate político eleitoral.
Colaborou Vinicius Neder