O adiamento foi pedido pelo ministro Bruno Dantas. Diante dos indícios de irregularidades, ministros já sugeriram ao relator, depois da leitura do voto, que adote uma medida cautelar e suspenda parte dos pagamentos feitos a empresas pelas obras do Comperj, numa tentativa de diminuir possíveis prejuízos. José Jorge disse que analisará a sugestão até o fim da semana para que uma eventual decisão seja homologada na próxima reunião do plenário, quarta-feira que vem.
Para José Jorge, o fato de duas obras que somam R$ 7,6 bilhões terem sido contratadas sem licitação sob a gestão de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento reforça a necessidade de mais apuração sobre os contratos do Comperj. “É muito estranho um contrato no valor de R$ 7,6 bilhões (ser feito) sem licitação, principalmente no departamento que está sob investigação, o do Paulo Roberto Costa”, disse o ministro, reforçando que há “suspeitas graves” contra o ex-diretor.
Costa foi preso na Operação Lava a Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que investiga esquema de lavagem de dinheiro. Em depoimento à 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, na semana passada, ele citou suposto esquema de superfaturamento de obras da Petrobras. Políticos do PT, PMDB e PP eram, de acordo com o ex-diretor, beneficiados com o pagamento de propina, que variava entre 2% e 3% do valor do contrato, por grandes empreiteiras do país.
O relatório aponta “indícios de falta e inadequação de análises técnicas, grave inobservância de normativos e pareceres, além de deficiências de planejamento das obras envolvidas na construção do Comperj” como “atributos de gestão temerária” nas obras bilionárias.
CUSTOS ALTOS José Jorge ressalta o crescimento do custo das obras. “Dos iniciais US$ 8,4 bilhões, chega-se hoje a estimar em US$ 47,7 bilhões os investimentos demandados para a conclusão do complexo. (...) A mudança na ordem de grandeza não deixa de chamar atenção”, escreveu no relatório. Ele pede a abertura de mais auditorias. “Essa auditoria foi de como a Petrobras se estrutura para fazer um empreendimento tão grande de uma forma tão frouxa”, disse, em entrevista. O Comperj foi integrado à carteira de projetos da Petrobras em 2004.
Quanto custará a obra é, no entanto, um dos problemas identificados pelo relatório. Os técnicos encontraram diferentes referências aos gastos que a empresa pretende somar no fim da construção. Outra dificuldade apontada pelo texto é que a Petrobras tomou decisões “sem o devido suporte em análises estruturadas de risco.” Essa ação visa apontar eventos que podem atrapalhar a condução de um projeto, como, por exemplo, atrasos no cronograma. De acordo com os auditores, as análises de risco “passaram a ser realizadas, periodicamente, somente a partir de agosto de 2012”.
“Em termos de governança corporativa, asseverava-se, no âmbito daquele levantamento, que a gestão de riscos do Comperj aparentava não ter sido fidedigna ao que pressupõem os normativos e sistemáticas internas da Petrobras, o que seria a causa principal da deficiência informacional nas tomadas de decisão estratégicas e na gestão da implementação dos projetos”, registrou o texto. Segundo José Jorge, apenas depois de a Petrobras responder a esclarecimentos pedidos no acórdão, será realmente possível identificar se ouve irregularidades graves, como superfaturamento. A Petrobras não se pronunciou sobre o assunto..