O historiador e consultor político Daniel Machado está no grupo de especialistas que questionam os resultados das pesquisas. “Percebemos que as sondagens não mostram a realidade. Já existe um grupo de pessoas que não confiam mais nelas. Com isso, as campanhas fazem pesquisas próprias e usam esses números para deixar o eleitor confuso porque acabam criando uma situação favorável para esse ou aquele candidato”, diz.
Ainda assim, Machado destaca que os levantamentos dos institutos são essenciais para o trabalho dos analistas políticos. “Mais do que o dado da intenção de votos, o que nos chama a atenção é a rejeição do candidato. É com base nesse índice, mesmo que não seja completamente preciso, que é possível calcular o teto de votos. A condução das campanhas é muito influenciada por esse percentual”, argumenta.
Estratégias
Machado ressalta que os comitês de campanha têm se direcionado por esses números para traçar as estratégias, e cita, como exemplo, uma tática para minar o candidato feita com base nas aferições para ver o quanto dá para apostar na migração de votos. Apesar de acreditar que os números possam tender para algum lado, Machado ressalta que os institutos buscam entender a polarização atual e recuperar a credibilidade. O mesmo raciocínio é compartilhado pelo professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Calmon. “Temos que assumir que, pelo menos em tese, os institutos são sérios e possuem competência técnica para amostragem.”
Segundo Calmon, o fato de as duas últimas pesquisas terem mostrado resultados idênticos reflete coisas diferentes. “Os números mostram o momento atual. É preciso lembrar que muitos eleitores só decidem o voto na véspera. Não é confiável usar esses dados e apontá-los para o dia 26”, ressalta.
Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebap) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e doutor em estatística, Kaizo Beltrão também chama a atenção para o método usado nas pesquisas. “A diferença entre as urnas e as pesquisas pode estar na coleta de dados. Se ela está enviesada, não tem margem de erro que dê jeito, pois essa diferença para mais e para menos não está relacionada a tendências, vale apenas para uma pesquisa correta.”
Cobrança por transparência
Tão logo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encerrou a apuração do primeiro turno, estatísticos, cientistas políticos e sociólogos questionaram a diferença entre o resultado das urnas e o das pesquisas.
O professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Artur Trindade ressaltou que, na hora de apontar em quem vai votar, o eleitor pode dizer um nome sem ter a certeza de que não vai trocar de opção, o que pode ter impacto no resultado das urnas e nas pesquisas. “Houve mudanças socioeconômicas muito rápidas no país e pode ser difícil captar isso. Falta transparência no processo de amostragem”, reforçou o professor Paulo Calmon, do Instituto de Ciência Política da UnB.
Trindade, porém, destacou que a diferença entre as pesquisas e o resultado final não foi excessiva. Essas falhas ocorrem desde 1982, quando as sondagens passaram a ser usadas para tentar captar a decisão do eleitor. Um exemplo foi o resultado das eleições daquele ano para o governo do Rio de Janeiro. Na época, os institutos mostravam Leonel Brizola com 2% das intenções de votos e Moreira Franco na liderança. As urnas, entretanto, deram vitória a Brizola, com 34%, contra 30% de Franco. (GC e Paulo Silva Pinto).