Jornal Estado de Minas

Marqueteiros preferem briga pessoal, critica FHC

No dia seguinte do debate mais tenso da campanha presidencial, em que a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves trocaram acusações pessoais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou as equipes de comunicação das campanhas.
"Parece que os marqueteiros preferem a briga pessoal. Os candidatos não gostam e eu também não", afirmou Fernando Henrique, que disse, no entanto, não ter visto o debate organizado por SBT, Uol e rádio Jovem Pan. "Os partidos têm programa, mas não conseguem mostrar".

Fernando Henrique comentou rapidamente o aumento da tensão entre os candidatos depois de fazer palestra para cooperativados da Unimed, em um hotel na zona oeste do Rio. Para a plateia, o ex-presidente fez uma referência explícita à eleição do dia 26. "Temos tudo para vencer, depende de nós e, sem querer exagerar, do que fizermos agora, semana que vem. Nós somos responsáveis", disse. "Chegou um ponto que não dá mais, esse momento de dizer 'basta' chegou", insistiu.

Fernando Henrique afirmou que a corrupção tem "anuência" dos governantes.
"Estamos diante de um quadro de corrupção sistêmica, você tem anuência tácita ou explícita de quem manda no governo, porque sabe, tem que saber. Não pode deixar de saber que existe uma organização nas estatais, nas obras públicas, para obter dinheiro", afirmou o tucano. Fernando Henrique disse que o PT, com exceção do senador Eduardo Suplicy (SP), foi contra a implementação de programas de transferência de renda no passado. "A reação contra isso era muito grande, principalmente do PT porque (o programa de bolsas) era 'neoliberal'. Em vez de o Estado fazer, dá o dinheiro, que vai para o mercado".

O ex-presidente lembrou que seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), unificou as diferentes bolsas de seu governo, o que "deu resultado". "O programa Fome Zero (do PT) nunca existiu, era só propaganda. Quando o presidente Lula percebeu que tinha que fazer algo, juntou tudo e fez o Bolsa Família. Deu resultado. Passou de cinco milhões para onze milhões de famílias", disse. Fernando Henrique voltou a ironizar o petista: "O presidente Lula teve a sagacidade de, tendo sido contra tudo o que foi feito, fazer tudo igual".

O tucano disse que, depois da Constituição de 1988 e com a redemocratização, "era preciso olhar mais para os pobres não só porque é obrigação moral, mas porque eles votam". "Nos anos 70, no governo militar, a economia cresce e o povo que se dane. Mas, quando tem democracia, tem que ter política social". O ex-presidente afirmou que o País vive uma "crise de valores"..