Depois do mais duro debate que haviam travado no segundo turno das eleições – realizado na terça-feira no SBT/TV Alterosa e recheado de acusações políticas e ataques pessoais –, os dois candidatos à Presidência elevaram ontem o nível e passaram a apresentar propostas. Frente a frente pela penúltima vez antes do pleito, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) optaram na TV Record por comparar estilos de governo e falaram de temas como saúde, educação, segurança e direitos trabalhistas, mas sem deixar de lado a Petrobras. Sobre a estatal, desta vez, além de trocar farpas sobre as denúncias de corrupção, os dois optaram por falar em gestão e governabilidade.
A senha de que o confronto seria diferente foi dada já na primeira pergunta, quando Dilma usou a oportunidade de questionar o rival para falar do SuperSimples, programa de incentivo tributário aos micro e pequenos empresários. Aécio agradeceu a "qualidade" da pergunta. Enquanto a petista colocou o programa na conta do seu partido, o tucano alegou que as medidas de simplificação de impostos foram propostas pelo PSDB.
Com bem menos rispidez do que nos encontros anteriores, Dilma e Aécio trataram das novas acusações de corrupção na Petrobras. Foi quando o tucano usou a declaração recente da petista, que admitiu anteontem ter havido desvio de dinheiro público na estatal. "Cobrei da senhora uma posição e agora deixo meu reconhecimento público, porque a senhora ontem reconheceu desvios", ironizou o tucano. Dilma disse que seu governo age diferente da gestão tucana que, segundo ela, "prevaricou" ao engavetar escândalos como os da Pasta Rosa, compra da reeleição e o cartel do metrô em São Paulo.
Aécio afirmou que Dilma teve um "recuo", pois, depois de admitir os desvios no dia anterior, falou em "indícios". O tucano criticou ainda o fato de a petista ter dito que mandou a Polícia Federal investigar os fatos. "Triste de um país onde um presidente manda investigar, isso funcionaria em ditaduras amigas de seu governo."
O candidato falou da nova denúncia do caso Petrobras, em que o ex-diretor Paulo Roberto Costa disse ter abastecido a campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) com R$ 1 milhão, mas centrou fogo no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele seria o responsável por repassar a propina recolhida na estatal para o partido. Aécio insistiu em perguntar se a petista confiava nele, que também é membro do conselho da Usina de Itaipu. Em vez de responder sobre Vaccari, Dilma disse que Costa também denunciou o ex-presidente do PSDB falecido, Sérgio Guerra, por receber propina para acabar com CPI da Petrobras. Aécio também não se posicionou sobre o ex-dirigente tucano.
Em nova rodada de embate sobre a estatal, Aécio disse que o governo Dilma reduziu o valor da Petrobras e a aparelhou. Também a acusou de falta de governança por ter sido presidente do Conselho até 2002. Dilma disse que o tucano pretende privatizar a Petrobras, só não sabe quando, e apontou mais uma vez as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso e vendas à "preço de banana".
O tucano voltou a falar da alta de inflação do governo do PT, dizendo o país está em recessão e comparando os números do Brasil com países vizinhos. A petista respondeu que o problema está sob controle e acusou a gestão tucana de combatê-la com desemprego e alta de juros.
Dilma perguntou o que Aécio pretende fazer pelos direitos trabalhistas e alfinetou o tucano, dizendo que na era FHC o PSDB tentou transferir as conquistas da lei para os acordos coletivos. Aécio aproveitou para repetir sua proposta de rever o fator previdenciário que, segundo ele, penaliza o trabalhador. Outro embate foi sobre o papel dos bancos públicos. O tucano acusou a presidente de terrorismo, fazendo com que os eleitores e funcionários desses bancos acreditem que um eventual governo de Aécio iria reduzir o papel deles. O tucano disse que pretende fortalecer instituições como o BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, além de valorizar os servidores de carreira. Dilma disse que quem faz terrorismo é Armínio Fraga, que Aécio apontou como futuro ministro da Fazenda, ao dizer que não sabe onde eles vão parar. Na educação, a pauta foi o acesso às universidades públicas. Ambos tentaram se colocar como grandes promotores da educação.