O cadastro da atividade de lobby da Câmara dos Deputados não informa quem realmente influi, como influi e sobre quem influi no processo de elaboração de leis. É o olhar do eleitor sobre as prestações de contas dos deputados federais candidatos à reeleição que desvenda o lado desconhecido da representação de interesses no Poder Legislativo.
Dados sistematizados pelo Estado de Minas das prestações parciais de
Apesar do intenso envolvimento das empresas desses segmentos nas contribuições das campanhas ao longo das duas últimas décadas, nenhuma delas teve a representação de seus interesses, por meio de um lobista, registrada junto à Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados, responsável por esse cadastro. Quem afirma é o cientista político Manoel Leonardo Santos, do Centro de Estudos Legislativos do Departamento de Ciência Política da UFMG, coordenador de pesquisa inédita financiada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o lobby e a representação dos interesses na Câmara dos Deputados.
Ao longo desse período registraram a sua atividade de lobby no Congresso Nacional principalmente órgãos do governo, agências reguladoras, empresas de economia mista, sindicatos e associações profissionais. Segundo revelou a pesquisa, estão entre os lobistas inscritos no cadastro representantes dos grupos de interesses da sociedade civil e os assessores parlamentares dos órgãos de estado. “Não há empresas ligadas aos setores da economia que contribuem com as campanhas e que têm fortes interesses na aprovação de matérias. Tampouco há registro daqueles lobistas que desenvolvem a atividade profissionalmente intermediando esses interesses”, diz o cientista. Enquanto com a prestação de contas das campanhas é possível saber quem paga a conta, a atividade do lobby no Brasil não exige qualquer registro. “Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde há clara regulamentação”, explica Manoel Leonardo Santos.
A partir da redemocratização do país e da promulgação da Constituição de 1988, o Congresso Nacional foi valorizado como arena política. “Nesse novo contexto, a competição por influência num ambiente pluralista no interior do parlamento leva à profissionalização do lobby”, afirma o cientista. A atividade é crescentemente valorizada: 70% afirmaram que desempenham a atividade em tempo integral e, em 77% dos casos, é atribuído a eles alto status, já que há um setor posicionado no topo do organograma da organização dedicado à representação dos interesses. “Em 64% dos casos, os entrevistados afirmam ainda que existe uma equipe especializada, de em média 12 pessoas, para apoiar a atividade de lobby e a representação de interesses”, revela Manoel Santos. É alto o grau de especialização de 55% dessas equipes e, em 58% delas, é também alta a profissionalização.
A primeira luz colocada pelo trabalho de Manoel Leonardo Santos sobre o cadastro do Congresso Nacional indica que entre as entidades que formalizam o acompanhamento da tramitação das matérias de seu interesse, há forte apoio pela regulamentação do lobby no Brasil: 80% delas consideram importante que sejam definidas regras claras para a atividade.
Mineração no topo dos financiadores
Com interesses no âmbito federal e também estadual, os segmentos da mineração, da construção e do agronegócio são aqueles que mais financiaram as campanhas de deputados que concorreram à reeleição tanto para a bancada mineira da Câmara dos Deputados quanto para a Assembleia Legislativa. Deputados federais e estaduais que tentaram um novo mandato também se valeram do expediente de transferências de recursos entre diretórios e entre campanhas para evitar a identificação dos doadores: 5% das contribuições declaradas estão nesta categoria.
O que difere o perfil do financiamento para os dois cargos é a diferença no peso que assumem alguns segmentos. O setor imobiliário, por exemplo, investiu proporcionalmente duas vezes mais na reeleição de deputados estaduais do que de deputados federais mineiros. Também os segmentos de transportadoras, locadoras de veículos e postos de gasolina, empresas de venda de material de construção e o segmento de gráficas e editoras apostaram muito mais, quando não exclusivamente, nas eleições para a Assembleia Legislativa. Já os frigoríficos, o segmento de bebidas e de produtos químicos nada ou pouco investiram em deputados estaduais: fizeram as apostas na reeleição de deputados federais. .