No discurso da vitória em que a presidente Dilma Rousseff se diz disposta a "abrir um grande espaço de diálogo em todos os setores da sociedade", lideranças da oposição ao governo no Congresso Nacional acenam com a chance de aprovar reformas importantes ao Brasil lideradas pela petista, mas duvidam da disposição da reeleita em dialogar com opositores. Para alguns dos principais líderes ouvidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a condição para votar a favor de propostas positivas ao País seria que ela ouvisse e incorporasse ideias do bloco antagônico ao governo no parlamento.
O deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB em Minas, reclamou: "Em momento algum a presidente propôs um diálogo com a oposição. Ela não teve a humildade de mencionar nada em relação aos 48 milhões de eleitores que a rejeitaram e o que fez foi um discurso em que reafirma a continuidade. Ela não tem vocação nenhuma para o diálogo. E não acho que depois de certa idade as pessoas mudem. Não creio nessa conversão súbita, não creio que mude sua índole autoritária. Nossa oposição não vai titubear em vocalizar o desejo de metade do Brasil", avisou.
A oposição também se incomodou com a fato de Dilma ter citado a promoção de um plebiscito para referendar reformas ao País. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), viu na fala presidencial uma "inversão na ordem". "Nosso partido não se furtará de discutir o interesse nacional. Mas estamos falando de discutir uma agenda prévia. E não colocar como condição da reforma a submissão ao plebiscito".
Recém-eleito senador, o deputado Ronaldo Caiado (GO) segue a mesma linha. "É inviável fazer plebiscito sobre uma matéria técnica, sendo que é prerrogativa do Congresso a responsabilidade de elaborar o texto e depois, dada a importância do tema, fazer uma avaliação por meio de consulta popular. Você só faz plebiscito de questões objetivas, de temas que podem se resumir a um 'sim' ou um 'não'. Na reforma política você tem dezenas de variantes, como no sistema eleitoral, na forma de financiamento, na cláusula de desempenho, no financiamento de campanha, nas coligações e por aí vai". Ele critica a proposta: "O que eles querem é induzir uma reforma de acordo com seus interesses, aproveitando-se do benefício da máquina presidencial. Assim foi feito com o decreto de criação dos conselhos populares. Não tem nada a ver com democracia, e sim com um modelo bolivariano da qual ela é tão defensora e que nós combateremos firmemente".