Se o PSB esperava sair dessas eleições maior do que entrou, em razão da forte participação na disputa presidencial no primeiro turno, quando a ex-senadora Marina Silva obteve 21,32% dos votos, o resultado não correspondeu às expectativas. O cenário desenhado depois da abertura das urnas, tanto na estrutura interna quanto na densidade política da legenda, coloca o partido entre os perdedores. Embora dirigentes neguem, os socialistas perderam o norte e sua unidade com a morte do seu maior líder, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, e viram diminuir sua participação à frente dos governos estaduais.
Fim do primeiro turno e os abismos aparecem mais uma vez. Marina decidiu apoiar o senador Aécio Neves (PSDB) na disputa contra a presidente Dilma Rousseff (PT), levando à troca da direção partidária. Por defender o apoio a Dilma, o presidente interino Roberto Amaral, que participou do governo Lula, deixou a função, e foi eleito Carlos Siqueira, o desafeto de Marina. Nem mesmo o apoio da candidata, que se apresentava como um contraponto à polarização entre PT e PSDB antes de se juntar a Aécio, pode ser considerado vitorioso. Dilma comemorou vitória na maioria das cidades em que Marina venceu no primeiro turno.
BANCADAS Os números do partido no Legislativo também não são animadores. Na Câmara dos Deputados, onde esperava ampliar a bancada para 40 cadeiras, o PSB manteve as 34 feitas em 2010. No Senado, a legenda cresceu de quatro para sete cadeiras, mas nos estados o partido fez apenas três governadores: no Distrito Federal, Paraíba e Pernambuco. Há quatro anos, a legenda elegeu o dobro, governando seis estados até que um deles, o do Ceará, Cid Gomes, se mudasse para o recém-criado Pros.
Para o novo presidente do PSB, Carlos Siqueira, porém, o saldo da eleição é muito positivo, já que a legenda ficou entre as que alcançaram a cláusula de barreira e fez um número de governadores dentro do planejamento. “Em 2010 foi que surpreendeu, ficou bem acima do que esperávamos”, afirmou. Para Siqueira, o resultado coloca o partido em uma situação confortável pelo “protagonismo” que teve no primeiro turno do pleito. O dirigente nega que a legenda esteja rachada. Segundo ele, uma minoria foi contra a aliança com os tucanos, mas pedindo neutralidade, e só um integrante quis o apoio a Dilma. “O PSB segue a princípio na oposição, mas com ideais programáticos de esquerda”, afirmou Siqueira.
IMPACTO Quanto à Marina, o presidente do PSB disse que a briga do passado foi superada. “Ela é de outro partido, mas está acolhida no PSB enquanto desejar”, afirmou, se referindo à possibilidade de ela fundar e migrar para sua Rede. Siqueira disse que a avaliação do impacto de Marina a favor de Aécio no segundo turno deve ser feito pelo partido dela. “O que sei é que foi como todos mundo está vendo”, disse.
O presidente do PSB de Belo Horizonte, João Marcos Lobo, contestou o fracasso do apoio de Marina a Aécio, argumentando que, com ela, o tucano ganhou no Acre, por exemplo. Ele também ressaltou a participação do prefeito de Marcio Lacerda na campanha do tucano no segundo turno como fator que ajudou no bom desempenho de Aécio em Belo Horizonte. O tucano passou de 771.692 votos para 937.428, mas, mesmo assim, o número de votos que ele e Dilma conseguiram somar na última etapa do pleito foi semelhante. Ainda que negue problemas, Lobo defende que o PSB passe por uma reavaliação e comece a se estruturar para se manter em 2016 à frente das prefeituras que conquistou em 2012 e iniciar já um planejamento para a corrida presidencial de 2018.
O futuro de Marina
Derrotada no primeiro turno das eleições presidenciais, a ex-senadora Marina Silva (PSB) pretende agora conquistar o registro da Rede Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até março de 2015. Um dia depois da decisão nas urnas pelo Palácio do Planalto, o grupo político da ambientalista se reuniu para discutir como será a busca pelas 32 mil assinaturas que faltam para legalizar o partido. Assim que estiver tudo pronto, Marina e seus seguidores devem deixar o PSB. O porta-voz da Rede, Walter Feldman, alegou que o projeto do novo partido só ficou parado quando Marina assumiu a cabeça da chapa no lugar de ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em 13 de agosto. “O combinado é que ficaríamos até as eleições. Agora, a luta continua”, disse.