Jornal Estado de Minas

Corrente do PT defende pichação em sede de editora e propõe Lei da Mídia Democrática

O texto, divulgado no blog de Valter Pomar, ex-vice presidente nacional do PT entre 1997 e 2005 e integrante da Direção Nacional do partido, ainda está "em debate, sujeito a emendas e correções", mas pode influenciar o rumo dos debates internos do partido

Alessandra Alves
Uma corrente interna do Partido dos Trabalhadores (PT), chamada Articulação de Esquerda, divulgou, no último dia 28, um documento, com 51 propostas para o próximo mandato da presidente reeleita Dilma Rousseff.
Entre as medidas defendidas pelo texto está a criação do que eles chamam de Lei da Mídia Democrática, o que regularia, por exemplo, ações de jornais de oposição ao governo, vistos como inimigos pelo partido.

“Defendemos que o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores inicie a construção de um jornal diário de massas e de uma agência de notícias, articulados a mídias digitais (inclusive rádio e TV web), com ação permanente nas redes sociais, que sirvam de retaguarda e de instrumento do campo democrático-popular na batalha de ideias”, diz o item 28 do documento. A proposta seguinte vai ainda mais além e pede o relançamento da campanha pela reforma política e “pela mídia democrática, contribuindo para que o governo possa tomar medidas avançadas nestas áreas e para sustentar a batalha que travaremos a respeito no Congresso Nacional”.

O texto, divulgado no blog de Valter Pomar, ex-vice presidente nacional do PT entre 1997 e 2005 e integrante da Direção Nacional do partido, ainda está “em debate, sujeito a emendas e correções”, mas pode influenciar o rumo dos debates internos do partido. Uma reunião com o Diretório Nacional da sigla está marcada para os dias 28 e 29 de novembro e, no que depender das declarações recentes da própria Dilma Rousseff, uma regulação do setor pode estar por vir. “Sou de uma época que vivi sob a ditadura e sei o valor da liberdade, mas como setor econômico, porque a mídia não é só setor cultural, vamos discutir uma regulação, mas antes de fazer, vamos discutir muito”, afirmou a presidente, na última terça-feira em entrevista ao SBT.

Em alguns momentos, o texto entra em contradição ao alegar preconceito por parte da “extrema-direta” e em seguida, dizer que o setor está “empesteando o ambiente”. “Não apenas nas redes sociais, mas ao vivo e em cores, a extrema-direita saiu do armário, cresceu no parlamento e está empesteando o ambiente com todos os preconceitos e atitudes violentas”, diz o item 20. Já no item seguinte, o grupo reclama da oposição quando ela diz que o país está dividido, sem lembrar que, matematicamente, a diferença de votos entre os dois candidatos foi de pouco mais que 3 milhões de votos, em um quadro com 21,1% de abstenções, 1,71% de votos brancos e 4,63% de votos nulos.

Ao final do documento, o grupo chega a defender a pichação e o lixo jogado em frente a sede da Editora Abril, dias após uma das revistas do grupo publicar uma matéria onde o doleiro Youssef, réu no processo que investiga corrupção na Petrobras, afirma, em depoimento à Polícia Federal, que Dilma e Lula sabiam do esquema. “As pichações e o lixo jogado em frente a sede da Editora Abril, embora tenham sido úteis à manipulação midiática da direita, nada representam frente ao vandalismo brutal que o oligopólio comete cotidianamente contra a democracia brasileira”.

O texto finaliza pedindo que o Estado faça uso do poder para “combater o crime organizado midiático”..