Jornal Estado de Minas

Sistema proporcional impede eleição de candidatos bem votados em Minas

Legislação exclui pessoas que tentaram uma cadeira na Assembleia e Câmara e tiveram votação maior do que a obtida por muitos que se elegeram

Juliana Cipriani
"As coligações proporcionais desvirtuaram a realidade eleitoral: quem teve mais votos não é eleito e quem teve menos é. É um equívoco" - Carlos Mosconi (PSDB), deputado estadual e candidato a federal não eleito - Foto: Willian Dias/ALMG
A legislação eleitoral deixou de fora da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais 60 candidatos que tiveram nas urnas mais votos do que parlamentares eleitos. Por causa do sistema proporcional adotado para as vagas no Legislativo, que estabelece a distribuição das cadeiras pelo chamado quociente partidário, a variação da votação necessária para se eleger foi grande nas duas casas. O resultado foi que, na Câmara dos Deputados, 18 candidatos mineiros não terão mandatos a partir de 2015. Na Assembleia, foram 42 excluídos, o equivalente a mais de meio Parlamento.

Na Câmara, o quociente eleitoral foi de 190.918 e a diferença entre o mais votado e a menos votada foi de 264,8 mil votos. Reginaldo Lopes (PT) conquistou 310,2 mil eleitores, que digitaram seu número nas urnas. Já a última a ter uma vaga na bancada mineira, Brunny (PTC), teve 45,3 mil. Com mais votos do que a parlamentar eleita na lanterninha, ficaram de fora candidatos com votação entre 47,1 mil, resultado do suplente Gustavo Mitre (PHS), e Renato Andrade (PP), que alcançou 78,1 mil votos.


No Legislativo estadual mineiro, o eleito com menos votos foi o estreante Dirceu Ribeiro (PHS), ex-prefeito de Ubá. Escolhidos por 25.394 eleitores, o candidato conseguiu uma cadeira pela coligação com outros dois nanicos, PEN e PRP. Ele foi beneficiado pela votação total da coligação, que conseguiu garantir duas vagas por causa do quociente eleitoral, que nesta eleição para a Assembleia foi de 134.374 votos. As vagas são definidas dividindo a soma dos votos de todos os candidatos do partido ou coligação por esse índice.

O bloco formado pelos aliados do governador eleito, Fernando Pimentel (PT), por exemplo, foi o que mais conseguiu cadeiras, 20 no total. Mesmo com uma boa cota, todos os 10 candidatos que ficaram como suplentes da aliança fechada entre PT, PMDB, Pros e PRB tiveram mais votos do que Dirceu – entre eles três deputados que atuaram nesta Legislatura. Os dois primeiros suplentes, Geisa Teixeira (PT) e Toni Carlos (PMDB), superaram também a votação de Lerin, último a conquistar uma vaga pelo PSB com 36,9 mil votos, e Celinho do Sintrocel, último do PCdoB, com 36,3 mil votos. O mais votado na aliança de Pimentel, o deputado reeleito Paulo Guedes (PT), obteve 164,8 mil votos, quase quatro vezes o que teve o último da fila eleito com 43,3 mil votos, Leonídio Bouças (PMDB).

No blocão dos atuais governistas, que reuniu DEM, PSDB, PP, PSD e PPS, os 10 suplentes também podem se gabar de ter mais votos do que parlamentares eleitos, inclusive de três dos aliados de Pimentel. Com a votação necessária para ocupar uma das 19 cadeiras variando de 58 mil a 104,7 mil, deixaram de se eleger candidatos que tiveram mais votos do que, por exemplo, os peemedebistas Leonídio Bouças (43,3 mil), Cabo Júlio (44,3 mil), Vanderlei Miranda (45,7 mil), Iran Barbosa (46,3 mil) e o petista Cristiano Silveira (46,7 mil), todos esses eleitos.

Até mesmo entre os nanicos houve quem ficasse de fora com votação superior a de eleitos. É o caso da aliança entre PTN e PSDC, por exemplo, que deixou de fora três candidatos, do PTdoB com dois e do PMN, com um. A coligação entre PSC, PTC e PSL também falhou, perdendo três nomes que, se em outras legendas estivessem, com os votos que tiveram, seriam de deputados. A candidata da Frente de Esquerda, Vanessa Portugal (PSTU), não conseguiu ficar nem entre os suplentes, já que o total do partido não deu direito a nenhuma cadeira, mas também teve mais votos do que Dirceu. Ela conquistou a preferência de 26.221 eleitores..