A pulverização do poder vai se traduzir em maior participação dos nanicos nas decisões do Congresso Nacional. Deverão ocupar posições importantes tanto na Mesa Diretora quanto nas comissões. A outra consequência é que o preço da governabilidade vai ficar mais caro. "Os 39 ministérios não serão suficientes para acomodar todo mundo", ironiza o professor Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).
Para o governo isso é um problema político e aritmético.
Ao ganho de poder dos emergentes corresponde uma perda de representação dos partidos históricos. Dentre aqueles que elegeram deputados na primeira eleição após o fim da ditadura, em 1986, quase todos ficarão menores.
Encolhimento. São os casos de PMDB, que elegeu 12 deputados federais a menos, do PT (menos 18), do PDT (menos 9), do PR (menos 7), do DEM (menos 21), do PP (menos 5) e PC do B (menos 5).
Outros dois não encolhem nem crescem: PSDB e PSB. Só o PTB crescerá: 4 deputados a mais. Mesmo assim, todas as siglas históricas serão menores do que já foram um dia, com exceção do PSB (34 deputados é seu recorde).
O PT reelegeu Dilma Rousseff presidente, mas teve, em 2014, seu pior desempenho na eleição para a Câmara dos Deputados desde 1998. A maior bancada petista foi a de 2002, na primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: 91 deputados - porque o então presidente puxou votos para o partido em todo o País. Hoje, a ala petista é 23% menor do que aquela. Mas o problema não está só na base governista. É também da oposição.
Oposição
A bancada do PSDB está 45% menor do que chegou a ser em 1998. O auge dos tucanos foi na reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde então o partido entrou em declínio.
A maior decadência, porém, continua sendo a do DEM. Quando se formou, em 1986, desgarrando-se do PDS, o então PFL elegeu 118 deputados. Nesta eleição, fez uma bancada 81% menor do que aquela: 22. Quando comungava o poder com o PSDB, o PFL/DEM chegou a eleger a maior bancada da Câmara dos Deputados, em 1998. Hoje é a 9ª.
Em números absolutos, o PMDB é o mais decadente. Elegeu quase duas centenas a menos de deputados do que em 1986, o ponto alto do partido. Porém, mesmo com uma bancada 75% menor do que aquela, os peemedebistas são favoritos para presidir a Câmara. Operando como "dono" de uma S/A, o líder do partido, Eduardo Cunha, deve alavancar os 66 votos do PMDB e transformá-los em maioria - por meio de alianças com outras siglas minoritárias (mais informações abaixo). Desafeto do Palácio do Planalto, Cunha foi lançado na semana passada pela bancada peemedebista para a presidência da Casa.
Para demonstrar sua força, impingiu uma derrota ao governo, em votação que anulou o decreto da presidente Dilma Rousseff que regulamentava a criação de conselhos populares.
Janela
Ao proibir o entra e sai de deputados nas legendas, o Supremo Tribunal Federal acertou de um lado e errou de outro, afirma o professor Marco Antonio Teixeira. O Supremo, segundo ele, deixou aberta a janela da criação de novos partidos para burlar a fidelidade partidária. Eles se multiplicaram desde então. Por isso, "a reforma política não é uma panaceia, mas uma necessidade", afirma o professor da FGV..