Em um e-mail, seu advogado esclareceu que o cancelamento ocorre porque "algumas de suas declarações foram instrumentalizadas" e revelaram notícias "falsas". "Pizzolato não tem nada a adicionar à argumentação jurídica do processo de extradição da Corte de Bolonha", indicou. O advogado Alessandro Sivelli insiste que a recusa da Corte em extraditá-lo é resultado da constatação de que seu advogado não teve seus direitos de defesa respeitados no Brasil e que as prisões brasileiras não garantem seus direitos básicos.
A coletiva de imprensa ocorreria nos escritórios de Sivelle, um de seus três advogados, que estabeleceu regras para o encontro e indicou que os "convidados" aceitariam não perseguir o brasileiro pela Itália.
Ao deixar a prisão, na semana passada, Pizzolato hesitou em falar. Mas quando viu que a imprensa italiana também o aguardava, optou por dar declarações de amor à Justiça italiana, dizer que estava com a "consciência limpa" e garantir que foi alvo de uma injustiça.
Sivelli chegou a dizer que era favorável à "liberdade de imprensa" e que todos seriam chamados para ouvir seu cliente. Pizzolato até hoje não apareceu no endereço que ele indicou para a polícia, em Maranello.
O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil foi condenado a doze anos e sete meses de prisão no julgamento do mensalão.
O Brasil pediu sua extradição e o Ministério Público Italiano saiu em defesa do argumento brasileiro. Nesta semana, porém, o Tribunal de Bolonha rejeitou o pedido e liberou Pizzolato. As autoridades brasileiras garantem que vão recorrer da decisão, mas temem que a Corte de Cassação, em Roma, apenas confirme o julgamento. Diante desse cenário, a AGU e o Ministério Público Federal debatem a possibilidade de pedir que os italianos façam Pizzolato cumprir sua pena em uma prisão europeia.
Há menos de um ano, o governo italiano acatou um acordo proposto pelo Brasil para permitir que um brasileiro possa cumprir uma pena numa prisão italiana e vice-versa. Pizzolato pode ser um dos primeiros a usar o tratado. Mas, para isso, a Justiça italiana terá de rever o processo do mensalão.
Documentos obtidos com exclusividade pelo Estadão revelam que, apesar de não ter concedido a extradição de Pizzolato ao Brasil, a Justiça italiana não deu indicações de que considera que o processo do mensalão foi político ou ilegal, como argumentaram os advogados do brasileiro.
Num documento de 7 de abril de 2014, o Ministério Publico italiano apontou que "o dinheiro retirado do ente público foi, ao menos em parte, destinado ao núcleo central da organização criminosa, composto por José Dirceu, José Genoino, Silvio Pereira e Delúbio Soares". O dinheiro serviria para "pagar por campanhas políticas"..