As tradicionais partidas de futebol organizadas pelo presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Leo Burguês (PTdoB), com os colegas de Parlamento já não atraem jogadores nem para formar dois times de futsal. Há dois anos, quando se preparava para tentar a reeleição à Mesa Diretora, o vereador reunia sem dificuldades companhia suficiente para montar dois times de futebol de campo. O diagnóstico dentro das quatro linhas já foi traduzido pela Casa: Leo Burguês terá muita dificuldade em fazer o sucessor no comando do Parlamento municipal, no mês que vem. No seu encalço, de olho na cobiçada cadeira, está o ex-aliado e vice-presidente do legislativo, Wellington Magalhães (PTN).
O presidente da Câmara de Belo Horizonte é hoje um parlamentar desgastado, avaliam colegas de plenário. Nos últimos tempos, vereadores, rivais e até aliados de Burguês, têm classificado o chefe do Poder Legislativo municipal como individualista, principalmente no momento da assinatura de contratos na Casa. “O presidente não consulta ninguém. Nem mesmo o próprio pessoal da Mesa Diretora”, afirma um vereador. Um desses contratos lhe valeu, inclusive, investigação ainda em curso do Ministério Público. O vereador teria utilizado verba indenizatória para pagar pelos serviços do bufê da mulher de seu pai. O episódio teve grande repercussão, virou marchinha de carnaval, batizada de A coxinha da madrasta.
Segundo Burguês, no entanto, os ataques que vem sofrendo são motivados pela sucessão na Casa. “Fui eleito e reeleito pelos vereadores. Provavelmente os que estão falando votaram em mim. Então, é uma situação que a gente entende. Sabemos como é o processo eleitoral. Sempre um grupo quer falar de A ou B”, rebate o vereador. “Todo cidadão de Belo Horizonte conhece a Câmara. Fui o único presidente eleito e reeleito. Mesmo depois de toda essa história que pode ser colocada”, acrescenta.
Pelo conjunto da obra, Leo Burguês é apontado por adversários como o principal culpado hoje pela avaliação que a população da cidade faz da Casa. Pesquisas internas mostram que os vereadores têm péssima avaliação dos moradores de Belo Horizonte. O que também revela esse cenário são outros números: dos 17 parlamentares que disputaram cadeira na Assembleia Legislativa ou Câmara Federal, apenas quatro se elegeram.
Para Burguês, não é a Câmara que está mal avaliada pela população. “Quem tem imagem ruim hoje são os políticos. O objetivo nosso é mostrar as ações da Câmara. Continuar trabalhando assim como já estamos fazendo”. A atual avaliação de Burguês perante os vereadores fez até mesmo com que colegas deixassem de conversar com o vereador.
Candidato Entre os que cortaram relações com o parlamentar, está ninguém menos que o vice-presidente da Câmara, Wellington Magalhães (PTN), que vai tentar tomar o lugar do ex-aliado. Os dois se uniram na disputa pelo comando da Câmara há dois anos e atualmente nem sequer trocam cumprimentos. Na terça-feira, Wellington presidia a sessão quando Burguês entrou no plenário. O regimento diz que, na presença do presidente, cabe a ele conduzir os trabalhos. Burguês sequer chegou perto da Mesa Diretora. Na quarta, a cena se repetiu. Dessa vez, no entanto, Wellington deixou a condução dos trabalhos e pediu para que Iran Barbosa (PMDB) assumisse seu posto. Burguês percebeu, foi até o vereador e passou a comandar a sessão.
Wellington já deixou claro que vai disputar a presidência da Câmara. O vice-presidente, que já chegou a ter um mandato de vereador cassado por compra de votos, e reverteu a decisão na Justiça para poder se candidatar novamente, é visto hoje como “um brutamontes adocicado pela vida”. “Wellington já apanhou muito. Hoje é uma pessoa mais tranquila”, diz um vereador.
Com quase dois metros de altura e famoso pelo jeitão de trator nas articulações com colegas e com a prefeitura, o vereador é conhecido também pelas festas que organiza para aliados. Em fevereiro, o promotor Edson Resende enviou à Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) pedido de investigação sobre encontro que realizou para 1,5 mil pessoas com direito a bebida, comida e show. Em 2008, Wellington foi multado por propaganda extemporânea ao realizar festa na Região Noroeste da capital, sua principal base eleitoral.
Nomes Como não pode disputar novamente o comando da Casa, Burguês já trabalha com três nomes para a disputa contra Wellington. Orlei (PTdoB), Henrique Braga (PSDB) ou Silvinho Rezende (PT), partido com a maior bancada na Casa: seis vereadores. “Mesmo se conseguir que todos os petistas votem com ele, Burguês tem hoje no máximo 13 vereadores na Casa”, garante um parlamentar. A Câmara de Belo Horizonte tem 41 cadeiras.
A eleição para a presidência da Câmara será em 12 de dezembro. O tempo até a data dirá se Leo Burguês, depois de perder a capacidade de organizar peladas, ainda terá condições de driblar um adversário que parece estar ganhando confiança como marcador.