Com faixas e broches - com os dizeres "respeito é bom" - e ainda duas vuvuzelas, os servidores conseguiram fazer barulho suficiente para que a música tocada nos salões de almoço tivesse seu volume aumentado.
"Agora é uma questão da burocracia. Mas nós precisamos de uma solução definitiva para isso. Temos que aperfeiçoar os mecanismos. Todo ano tem cortes no orçamento, não podemos ficar a mercê disso", afirmou Sandra Nepomuceno Malta, presidente do sindicato que reúne diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria, o SindItamaraty. Já existe uma recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) para que o pagamento seja transformado em verba indenizatória, o que então permitiria que o pagamento fosse feito junto com os salários dos servidores. Segundo Sandra, Figueiredo abriu uma mesa de negociações com o sindicato com a intenção de resolver o problema, mas pediu que eles esperem que seja confirmado no cargo.
Ao todo, cerca de 2 mil servidores podem estar sendo prejudicados pelo atraso, em 226 postos diplomáticos em todo o mundo. O auxílio-moradia é pago a todo servidor do Itamaraty no exterior, e por vezes chega a representar 70% do salário.
Sandra afirma que, apesar da publicação hoje do decreto, o estado de mobilização se mantém. Figueiredo chegou a dizer, em uma reunião na última sexta-feira, que as manifestações poderiam atrapalhar a negociação com o tesouro, mas a presidente do sindicato explica que a pressão dos servidores no exterior está muito forte. "Foram eles que decidiram a assembleia", afirma. "Se não tem o pagamento, acabou o serviço no exterior. Eles não têm como bancar os custos. E hoje ainda ficamos sabendo que o seguro saúde dos servidores no exterior também está atrasado", disse.
O orçamento do Itamaraty este ano representa 50% do alocado em 2013. Além disso, sofreu um corte em março de R$ 200 milhões. Os recursos acabaram em agosto, mas no mês seguinte o Congresso aprovou a suplementação orçamentária, que não havia sido liberada pela presidente até agora. O horário e o dia do ato não foi à toa. "Esperamos que incomode. Esse era o objetivo. Queremos que a presidente saiba por nós o que está acontecendo", afirmou Sandra.
Essa não é a primeira vez que o Ministério se vê pressionado por seu sindicato. Apesar de não ser comum diplomatas e outras carreiras do serviço exterior se rebelarem, já no ano passado os oficiais de chancelaria ameaçaram entrar em greve - e chegaram a fazer dias de paralisações - pedindo aumento e também a transformação de seus salários em subsídio, o que garante mais segurança. Acabaram por receber o mesmo reajuste oferecido a todas as outras categorias, de 15%..