Brasília, 14 - Em reunião a portas fechadas para discutir o segundo mandato de Dilma Rousseff, deputados do PT cobraram ontem um ministério mais “qualificado”, com mais peso político e maior diálogo da presidente com o partido. Diante dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), os petistas também disseram que o governo Dilma precisa de uma nova “política de comunicação”, se não quiser enfrentar mais crise a partir de 2015.
Convocada inicialmente para avaliar como o PT vai enfrentar a candidatura do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), desafeto do Planalto e forte nome para ocupar a presidência da Câmara, a reunião acabou se transformando em um muro de lamentações sobre o relacionamento com o governo. Deputados mostraram preocupação com as incertezas na economia e com a escolha do ministro da Fazenda e disseram que a bancada do PT está isolada e em guerra com o PMDB por defender Dilma sem ter o bônus de ser governo.
“Somos governo, mas precisamos ter mais protagonismo”, afirmou o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). “Queremos discutir antecipadamente temas que serão objeto de negociação posterior. Ninguém se importa de comprar briga, desde que seja realmente importante. Muitas vezes defendemos um projeto até o fim e, enquanto isso, o Planalto está negociando mudanças na proposta sem informar a bancada, que fica com imagem ruim.”
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) citou como exemplo desse constrangimento o projeto de lei que criminaliza a homofobia, de autoria da colega Iara Bernardi (PT-SP). “O governo mandou tirar isso de pauta porque atrapalhava a relação com os evangélicos. Aí depois veio o Jean Wyllys (PSOL-RJ) e pediu para a Dilma reapresentar. Então o PT abdicou de uma pauta histórica para ajudar na governabilidade e quem ficou bem foi o PSOL”, comentou. Na campanha pela reeleição, Dilma não encaixou a proposta no plano de governo enviado ao Tribunal Superior Eleitoral.
Dilma está na Austrália para participar da reunião do G-20 e disse que fará as mudanças no primeiro escalão em doses homeopáticas, o que também desagradou ao PT. Dos 39 ministérios, 17 são ocupados pelo partido.
“Estamos num momento delicado, com a base aliada inchada. É melhor uma base mais consistente, capaz de assinar uma carta de compromissos com o País, do que esse mata-mata no Congresso. É preferível fazer isso a ficar toda hora negociando ministério”, argumentou José Guimarães (PT-CE), um dos vice-presidentes do PT. Na sua avaliação, o governo também necessita “vender” melhor as suas realizações e ter uma política de comunicação mais eficiente, porque muito do que Dilma fez só foi conhecido na campanha.
Esplanada
Dois dias após Marta Suplicy ter deixado o Ministério da Cultura dizendo que Dilma precisa de uma equipe de trabalho que resgate a confiança e a credibilidade a seu governo, principalmente na seara econômica, deputados do PT afirmaram que o partido deve se debruçar sobre suas mazelas pós-eleição e insistir na necessidade de maior peso político na Esplanada.
“Muitos ministros são até desconhecidos”, observou Bittar. “É necessário pessoas que tenham maior visibilidade e que dialoguem com o Parlamento”. Para Pimenta, o PT precisa se reformular e Dilma não pode mais deixar os movimentos sociais em segundo plano. “Como um partido que está há 12 anos no governo perde quase 20 deputados federais e elege só dois senadores?”, perguntou ele.
O presidente do PT, Rui Falcão, pediu apoio ao projeto de lei enviado ao Congresso pelo Planalto, flexibilizando a meta de economia de gastos para pagamento dos juros da dívida pública. Os deputados prometeram votar favoravelmente à manobra do governo, mas disseram ter certeza de que partidos aliados, como o PMDB, cobrarão alto a fatura por avalizar essa proposta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.