Brasília – Os depoimentos em colaboração premiada de dois executivos da construtora Toyo Setal embasaram boa parte da decisão do juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Indicado ao cargo pelo PT, ele já havia sido acusado pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento Paulo Roberto Costa de intermediar propina para os petistas, com base em contratos superfaturados por um cartel de empreiteiras.
“Observa-se que Júlio Camargo e Augusto não apenas narram os fatos, mas indicam contas bancárias utilizadas nas transações, datam as transações, especificam locais de encontros, descrevem os meios utilizados, os telefones de contatos e indicam demais documentos, alguns fictícios, empregados para acobertar os crimes perpetrados”, afirmam os procuradores da República da força-tarefa da Operação Lava a Jato. “Em outras palavras, materializam, provam e demonstram todos os fatos descritos em seus depoimentos, confessando, inclusive, as suas respectivas participações.”
Bloqueio de bens
Moro determinou o bloqueio de bens de 36 investigados em até R$ 20 milhões, entre eles os executivos de empreiteiras, Baiano e Duque. As empresas Technis, Hawk Eyes e D3TM Consultoria também tiveram bens bloqueados, por serem de Baiano. Para evitar a quebra de algumas empresas e a paralisação de obras importantes, o juiz não aceitou bloquear as contas das grandes empreiteiras, nem mesmo um percentual de 5% a 10% dos contratos que eles mantêm com a Petrobras. “A medida teria impactos significativos também para terceiros”, justificou. “Melhor focar, no presente momento, a recuperação dos ativos sobre os dirigentes responsáveis pelos crimes, sem prejuízo de futuras medidas contra as empresas.”
Além do ex-diretor da Petrobras, quatro presidentes de grandes empreiteiras e 15 executivos tiveram as prisões decretadas ontem, na sétima fase da Lava a Jato, uma ação policial de proporções inéditas no país, cujo principal objetivo é buscar provas contra corruptores. As prisões dos presidentes das empreiteiras são temporárias, com duração de cinco dias, mas podem ser prorrogadas “por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade”. Foram presos os presidentes da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, e da Iesa, Valdir Carneiro. Dalton Avancini, presidente da Camargo Correa, não havia sido preso ou se entregado até a conclusão desta edição. O ex-diretor-presidente da construtora Queiroz Galvão, Ildefonso Colares, se entregou na superintendência da PF em Curitiba, no fim da tarde. A assessoria de imprensa da Queiroz informou que ele não trabalha para o grupo desde 2012.
Foram presos ainda outros quatro executivos da OAS (Mateus Coutinho de Sá Oliveira, Alexandre Portela Barbosa, Agenor Medeiros e José Ricardo Nogueira), três da Engevix (Gerson Almada, Carlos Strauch Albero e Newton Prado Júnior), o diretor da Queiroz Galvão Othon Zanoide de Moraes Filho, três da UTC (Ednaldo Alves da Silva, Walmir Pinheiro Santana e Carlos Alberto Costa Silva), o diretor da Iesa Otto Sparenberg, e Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia.
Comboio
Até o fechamento desta edição não haviam sido cumpridos os mandados de prisão contra o vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Cunha Mendes, que mora em Brasília e negociou com a PF se entregar em Curitiba até o fim da noite de ontem, Eduardo Hermelino Leite (Camargo Correa), João Ricardo Auler (Camargo Correa), Adarico Negromonte Filho e Fernando Antônio Falcão Soares.
Os presos começaram a ser levados a Curitiba (PR) ontem, onde se concentra toda a investigação. Para fazer a viagem, os detidos em São Paulo foram transportados pela Polícia Federal ao aeroporto de Guarulhos. A van que os levou tinha as janelas tampadas por cortinas. Já os presos no Rio de Janeiro foram conduzidos à Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, zona norte do Rio. O transporte foi feito por um veículo da PF escoltado por dois carros com agentes federais.
"À disposição das autoridades"
Brasília – As empreiteiras que tiveram dirigentes presos ou conduzidos coercitivamente ontem emitiram notas comentando a sétima fase da Operação Lava a Jato. A Odebrecht, cuja sede no Rio de Janeiro foi alvo de mandado de busca e apreensão, disse que “a equipe (da Polícia Federal) foi recebida na empresa e obteve todo o auxílio para acessar qualquer documento ou informação buscada”, e que “está inteiramente à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos sempre que necessário”. A Camargo Corrêa, que chegou a ter dirigentes presos, manifestou, em nota, que “repudia as ações coercitivas”, uma vez que “a empresa e seus executivos, desde o início, se colocaram à disposição das autoridades e vêm colaborando com os esclarecimentos dos fatos”.
A mesma linha foi seguida pelas demais empresas. A Engevix disse que “prestará todos os esclarecimentos que forem solicitados”. A Galvão Engenharia assegurou que “tem colaborado com todas as investigações referentes à Operação Lava a Jato e está permanentemente à disposição das autoridades”. A Mendes Júnior disse que está “colaborando com as investigações”.
Da mesma forma, a OAS afirmou, em nota enviada ao Estado de Minas, que “foram prestados todos os esclarecimentos solicitados e dado acesso às informações e documentos requeridos pela Polícia Federal”. A UTC informou que “colabora desde o início das investigações e continuará à disposição das autoridades para prestar as informações necessárias”.