Brasília – A deflagração da nova fase da Operação Lava a Jato, na sexta-feira, praticamente enterrou os esforços do governo de evitar que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff seja iniciado com um novo pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras.
A principal razão para esse novo cenário é justamente a prisão de presidentes, diretores e gerentes das principais empreiteiras do país. “Toda a blindagem que fazíamos a elas caiu por terra. Governo – e até oposição – tinham um acordo tácito de não chamá-los para depor nas comissões. Eles próprios (os executivos) pressionavam os parlamentares para evitar que isso acontecesse”, disse um aliado de Dilma.
Agora, contudo, com a prisão de vários deles, não haverá, na opinião de integrantes do governo, alternativa para os donos de empreiteiras: eles terão de colaborar com as investigações em curso. E, para salvar a própria pele, tendem a seguir o mesmo caminho do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e dos executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça, que fecharam acordo de delação premiada.
Governistas que acompanham os desdobramentos do caso e os trabalhos da CPI Mista da Petrobras lembram que alguns dos executivos resistiam à possibilidade de uma delação premiada e que as próprias empresas, em grande parte, eram contrárias ao estabelecimento de acordos de leniência com autoridades que investigam as denúncias de corrupção.
“Não há dúvidas, o que virá pela frente será um autêntico tsunami”, resumiu um petista, temeroso pela turbulência que se avoluma no horizonte. “E um tsunami extremamente violento”, alertou o mesmo parlamentar. Isso porque as empresas envolvidas nas investigações, além de contratos com diversos setores governamentais – nos planos federal, estaduais e municipais –, financiam praticamente todas as campanhas políticas do país. “Vale para políticos do governo e da oposição. Muito cacique que aponta o dedo para nós deveria começar a se preocupar”, disse um aliado palaciano.
A expectativa é de que haja um fim de 2014 e um início de 2015 repletos de delações premiadas vazando na imprensa e nas redes sociais, aterrorizando o Congresso e enfraquecendo o início do segundo mandato de Dilma. Incluindo, nesse rol, as declarações feitas por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef que estão sob análise do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki. O STF, inclusive, será o destino de parte das outras delações que envolverem autoridades detentoras de foro privilegiado.
Hostilidade
O cenário, que já não é promissor para o Planalto e para Dilma, poderá ser ainda pior, uma vez que o Congresso que tomará posse a partir de 1º de fevereiro de 2015 tende a ser ainda mais hostil ao governo, sobretudo no Senado. Na sexta-feira, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), já defendeu, durante ato político com tucanos paulistas, a criação de uma nova CPI para investigar as denúncias de corrupção na Petrobras.
Aécio não estará só nessa empreitada. Candidato a vice na chapa presidencial tucana, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) já demonstrou, em bate-bocas intensos com petistas na tribuna da Casa, a disposição para perturbar a vida do governo. “Ele é um dos melhores, se não o melhor quadro do PSDB hoje.
Além de Aécio e de Aloysio, o Senado ainda terá os ex-governadores de São Paulo José Serra e do Ceará Tasso Jereissatti, além dos calouros Antonio Anastasia, que governou Minas Gerais, Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Romário (PSB-RJ). Na Câmara, o governo ainda terá de lidar com o PMDB, de Eduardo Cunha (RJ), que planeja ser presidente da Casa e vive em atrito com o Planalto desde 2011, quando Dilma desmontou parte do feudo que ele montara no sistema elétrico. .