Em documento enviado pelo próprio diretor à CPI mista da Petrobras na semana passada, Cosenza diz ter autorizado a assinatura de 16 contratos desde que assumiu a direção da estatal, em abril de 2012, em substituição a Paulo Roberto Costa. Todos eles, que juntos somam R$ 3,7 bilhões, são relativos a obras na Refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
O maior deles foi celebrado com a Toyo Setal no valor de R$ 1,1 bilhão para a construção de uma usina de hidrogênio no Comperj. A Toyo foi a primeira empreiteira cujos dirigentes firmaram acordo de delação premiada, confessando terem cometido crimes em troca de uma eventual redução das penas. Os executivos da empresa Júlio Camargo e Augusto afirmaram terem pago, ao menos, R$ 154 milhões em propinas a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB na Petrobras.
Na relação, Cosenza disse ter chancelado contratos com outras seis empreiteiras: a Queiroz Galvão, a Odebrecht, a OAS, a Galvão Engenharia e a GDK S.A., que está em recuperação judicial. Hpa contratos assinados em 2012 e alguns deles vão vigorar até 2016 - como é o caso do que envolve a Toyo Setal. Os contratos têm por objetivo prestar uma série de serviços, como o fornecimento de bens, construção de ruas e iluminações, tratamento de despejos industriais, construção de diques e taques e montagem de duques para a Comperj e Abreu e Lima.
Cosenza, que era braço direito de Costa na Petrobras, prestou depoimento à CPI Mista em 29 de outubro e disse nunca ter ouvido falar de desvios ou formação de cartel entre empreiteiras para obtenção de contratos. Na ocasião, ele frisou ainda que só teve um relacionamento profissional com Paulo Roberto Costa, a quem disse ter tido contatado apenas cinco vezes desde que assumiu o cargo.
Procurada, a estatal não quis se manifestar novamente sobre o assunto. A reportagem questionou se a Petrobras iria manter os contratos vigentes, mesmo sob a suspeita de pagamento de propina envolvendo as empreiteiras. A presidente Dilma Rousseff e parlamentares da base aliada e até da oposição defendem a continuidade dos atuais contratos, com eventuais punições pontuais contra pessoas que se envolveram no esquema.
Das sete empresas, a reportagem não conseguiu contado com duas delas: a Toyo Setal e a GDK S.A. A Odebrecht disse, por meio de sua assessoria, que "nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras e em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer executivo ou ex-executivo da estatal". A empreiteira afirmou que mantém há décadas contratos com a estatal e que todos eles foram conquistados através da lei de licitações públicas. Já a assessoria da Galvão Engenharia disse a que empresa "tem colaborado" com as investigações e que também "está permanentemente à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários". Até o fechamento desta edição, as demais empresas não haviam respondido aos questionamentos enviados pela reportagem..