Dois executivos de construtoras presos sob suspeita de integrar um esquema de corrupção em contratos com a Petrobras afirmaram em depoimentos à Polícia Federal que pagaram propina aos ex-diretores da estatal Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e ao doleiro Alberto Youssef, alvos da Operação Lava Jato.
A suspeita dos investigadores, reforçada pelos depoimentos dos empreiteiros presos e detalhada nos depoimentos de delação premiada de Costa e Youssef, é de que os desvios tinham como destino o caixa 2 de partidos da base de governo, especialmente PT, PMDB e PP, e também da oposição, como o PSDB.
O vice-presidente da Mendes Júnior foi ouvido na terça-feira, 18 na sede da Polícia Federal de Curitiba. Disse ter sido "pressionado a fazer os pagamentos, sob pena de ter rompidos o atual contrato e futuros". Sérgio Mendes foi preso em regime preventivo sexta-feira. Ele declarou que o doleiro “agia em nome do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa”. O executivo relatou ainda como fez os pagamentos para empresas de Youssef, apontado como o operador do esquema do PP.
A Polícia Federal já tinha apreendido nas buscas feitas nas empresas de fachada de Youssef os contratos feitos entre a Mendes Júnior que respaldaram legalmente os pagamentos de propina. Só a Mendes Júnior tinha R$ 1 bilhão em contratos com a Petrobrás, fora as empresas ligadas a ela.
Na segunda-feira, 17, outro executivo afirmou ter pago a Costa e também a Duque. Ao pedir a prorrogação da prisão temporária do ex-diretor de Serviços, por mais cinco dias ontem, a PF considerou as declarações do executivo da Galvão Engenharia. "Foi reconhecido ontem por Erton Medeiros Fonseca o pagamento de vantagens ilícitas no âmbito da Diretoria de Serviços, à época em que o cargo era ocupado por Renato Duque, corroborando com os elementos iniciais que apontam à responsabilidade de Renato Duque", assinala a Polícia Federal.
O ex-diretor, indicado por José Dirceu ao cargo - algo que o ex-ministro nega -, é agora o novo foco da Operação Lava Jato.
O juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso, determinou na terça-feira, 18, a quebra do sigilo bancário de Duque e de três empresas que seriam usadas por ele e pelo operador do PMDB no esquema, Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano. Ele se entregou ontem em Curitiba e teve a quebra de sigilo decretada. Foram decretadas ainda as quebras de sigilo de 14 executivos presos na sétima etapa da operação. Ontem, parte deles foi solta.
Tentativas
O criminalista Marcelo Leonardo, que defende Sérgio Mendes, informou que vai tentar derrubar o decreto de prisão por meio de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). O advogado afirmou que seu cliente "está disposto a tudo" para colaborar com a polícia. Tanto o executivo da Mendes Júnior como o da Galvão Engenharia, apesar de admitirem o pagamento de propina, negaram fazer parte de um "clube" de empreiteiras que agia como cartel.
A acusação da existência do "clube" foi feita por dois executivos que dizem ter integrado o cartel, Júlio Gerin Camargo e Augusto Ribeiro, do grupo Toyo Setal, que está negociando um acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A dupla da empresa também fez delação premiada e falou em pagamento de propinas. Os dois apontaram, além de Costa e Youssef, o envolvimento de Duque e do ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco como recebedores de propina. A defesa de Duque nega que ele tenha participação no esquema de corrupção e propina e afirma que foi preso injustamente. Costa e Youssef fizeram delação premiada e confirmam as propinas na estatal.