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Estado de Minas

Investigação reforça suspeita de crime eleitoral no Norte de Minas

Conversas telefônicas interceptadas pela PF ampliam os indícios de irregularidades durante a campanha deste ano no Norte de Minas. Vice-prefeito e presidente de Câmara são investigados


postado em 21/11/2014 06:00 / atualizado em 21/11/2014 07:39

O fornecimento de canos para sistema de abastecimento de água e a doação de cimento em troca de votos estão entre as denúncias de crimes eleitorais supostamente praticados em Monte Azul (Norte de Minas) na campanha deste ano. Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal (PF) durante as investigações ampliam a suspeita. A princípio, o trabalho da PF tinha como objetivo apurar um esquema de aposentadorias irregulares no município, com a participação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e que foi desmontado na Operação Curinga, desenvolvida com o Ministério Público Federal (MPF). Os supostos favores em troca de votos serão alvo de investigação da Justiça Eleitoral e do Ministério Público Eleitoral (MPE), a partir de relatório da PF, ao qual o Estado de Minas teve acesso.

O relatório apresenta gravações de conversas telefônicas, feitas com autorização da Justiça, com promessas de benefícios em troca de votos, envolvendo o vice-prefeito Antonio Tolentino Teixeira (PT), o Toninho da Barraca; a presidente da Câmara Municipal, Marineide Freitas (PT), e o vereador Geraldo Moreira dos Anjos (PT), o Ladim. O documento da PF cita ainda os petistas Paulo Guedes e Reginaldo Lopes, respectivamente, deputados estadual e federal mais votados em Minas na eleição de outubro, apoiados pelas lideranças do partido em Monte Azul.

Em uma das gravações, Toninho da Barraca conversa com um homem chamado “Alex”, que pede 50 metros de canos, para atender a uma associação de cavaleiros do município. Numa parte do diálogo, o vice-prefeito pede a Alex o apoio político do sogro dele “para votar em nosso deputado” (leia ao lado trechos das gravações). Em outra interceptação telefônica, após o atendimento do pedido, o vice-prefeito revela a “Alex” que tomou conhecimento de que a entrega dos canos estava sendo investigada por policiais federais e orienta a um interlocutor a dizer que o material não foi fornecido pela prefeitura, para não configurar o fornecimento de bem público a entidade particular.

Emergência

A unidade regional do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) em Montes Claros é responsável pela distribuição de canos e outros equipamentos para o combate à estiagem no Norte de Minas. No período eleitoral, porém, o material só pode ser enviado a municípios sob estado de emergência, caso de Monte Azul. O atual dirigente do Dnocs em Montes Claros, Gustavo Xavier, foi indicado por Paulo Guedes, que tem influência no órgão. Mas o parlamentar petista nega qualquer envolvimento com as denúncias de crime eleitoral em Monte Azul. “A Polícia Federal tem ampla liberdade para apurar toda as denúncias. Não tenho nadas a temer, pois nunca pratiquei nenhum ilícito”, afirmou Guedes, em entrevista ao EM. A reportagem tentou novamente, mas não conseguiu falar com o deputado Reginaldo Lopes.

Outra escuta telefônica mostra trechos de conversas de Toninho da Barraca com um morador de Monte Azul, identificado como “Dimael”, que faz o pedido de 12 sacos de cimento para pôr laje numa sala de sua casa, ao custo de R$ 300. O vice-prefeito não nega o pedido, mas argumenta que o assunto tem de ser tratado “pessoalmente”, alertando sobre o período eleitoral e que o seu telefone pode estar “grampeado”. Passada a eleição, o eleitor volta a ligar para Toninho, para cobrar o cimento. Conforme a investigação, Toninho promete ligar para um homem chamado Luiz, “provavalmente, o dono de uma loja de material de construção”, para autorizar a retirada do produto.

Os diálogos

Fornecimento de cano

Alex: “Deixa eu falar com você. Nós tava precisando aqui na pista de uns canos pra puxar a rede para puxar do lado do curral de fora a fora (…), sabe?”
Toninho da Barraca: “Ah…”
Alex: “Aí, eu liguei e lembrei do amigo. Se tem disponível.”
Toninho: (ininteligível) “É quantos metros?”
Alex: “Ele falou que precisa de 20, 20 canos, né? Vinte, né mano?”
Toninho: “De qual você quer?”
Alex: “É de 50, né mano? De 50.”
Toninho: “Pode mandar pegar amanhã.”
Alex: “Tem disponível?”
Toninho: “Depois você faz o meio de campo pra nós.”
Alex: “Beleza, sem problema. Tranquilo.”
Toninho: “Você pode mandar pegar amanhã (...)
Alex: “Então, tá certo, deixa eu falar com você. Mas, como vamos pegar aí? Você quer que pega, quer marcar um lugar?”
Toninho: “É melhor pegar num, num carro seu.”
Alex: “Combinado!”
Toninho: “No meu (carro) é mais complicado.”
Alex: “Então, tá bom, eu procuro você amanhã?”
(…)
Toninho: “Depois você conversa com seu sogro lá (…) Ajuda nós no deputado nosso aí.”
Alex: “Pode deixar que eu vou conversar.”

Pedido de cimento

Dimael: “Eu preciso de uma ajuda sua aí.”
Toninho: “O que é meu amigo?”
Dimael: “Eu preciso de uma laje numa sala lá em casa antes de chover.”
Toninho: “Certo.”
Dimael: “Aí, eu fui apreçar. Eu tenho que comprar 12 sacos de cimento.”
Toninho: “Certo.”
Dimael: (...) A Luciene (atendente de loja de materiais) falou: ‘12 sacos de cimento sai por R$ 300’.”
(...)
Toninho: “É porque agora, por telefone, eu não posso falar com você. Nós tamo no período eleitoral”

Poço tubular

“Biga”: “O material para o poço tubular já chegou?”
(…)
“Biga”: “Quais são os seus candidatos?”
Toninho: “Paulo Guedes e Reginaldo.”
“Biga”: “Depois cê me dá o santinho”


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