Jornal Estado de Minas

Notas fiscais revelam pagamento de propina à Petrobras

Construtora investigada entrega documentos à Justiça Federal que revelam pagamento de suborno de R$ 8,8 milhões à Diretoria de Serviços da estatal. Repasses ocorreram entre 2010 e 2014

João Valadares Eduardo Militão
A construtora Galvão Engenharia S/A, uma das investigadas pela Operação Lava a Jato por integrar o esquema bilionário de corrupção na Petrobras, apresentou à Justiça Federal, na manhã dessa segunda-feira, comprovantes do pagamento de suposta propina no valor de R$ 8,86 milhões.
A defesa de Erton Medeiros Fonseca, diretor da Divisão de Engenharia Industrial da empreiteira, alegou que o suborno, pago em 20 parcelas entre novembro de 2010 e junho deste ano, foi direcionado a Shinko Nakandakari, “pessoa que se apresentou como emissário da Diretoria de Serviços da Petrobras na presença de Pedro Barusco”.

Até 2012, a diretoria era comandada por Renato Duque, um dos presos da Lava a Jato. Barusco exercia o cargo de gerente de Engenharia, subordinado a Duque. É a primeira vez que o nome de Nakandakari aparece nas investigações da Lava a Jato. Todas as licitações da Petrobras passavam pela Diretoria de Serviços, que ficava com 2% do valor dos contratos, segundo o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Para provar que a Galvão Engenharia teria sido coagida a pagar propina, Fonseca se dispôs a fazer acareação com os dois.

Os advogados de Erton alegam que a Galvão teve de fazer o pagamento para não ter problemas nos contratos firmados com a petrolífera. “A cobrança da vantagem indevida se deu em formato semelhante ao adotado pela Diretoria de Abastecimento, ou seja, com efetiva ameaça de retaliação das contratações que a Galvão Engenharia S/A tinha com a Petrobras caso não houvesse o pagamento dos valores estipulados de maneira arbitrária, ameaçadora e ilegal”.


A empreiteira entregou 12 comprovantes à Justiça. As notas fiscais indicam que a propina foi endereçada à empresa LFSN Consultoria Engenharia S/S Ltda, um mecanismo usado para “lavar” o repasse de dinheiro sujo. Nas notas fiscais, o dinheiro foi usado para pagar “serviços prestados conforme contrato”.

Outros

R$ 4 milhões foram pagos pela empresa a Youssef e a Costa, considerados os líderes do esquema criminoso. De acordo com a empreiteira, Youssef havia informado que o recurso abasteceu o Partido Progressista (PP). A consultoria está registrada no nome de Shinko e dois filhos, Juliana Sendai Nakandakari e Luís Fernando Nakandakari. De acordo com os documentos apresentados, o valor bruto da propina ficou em R$ 8,86 milhões. No entanto, descontando o Imposto de Renda e a Cofins, a quantia líquida é de R$ 8,31 milhões. O primeiro repasse, realizado em 8 de novembro de 2010, no valor de R$ 750 mil, foi direcionado a Luís Fernando Sendai Nakandakari.

Depois, de 6 de janeiro a 4 de novembro de 2011, a consultoria de fachada recebeu sete parcelas de R$ 660 mil. De 11 de janeiro a 26 de abril de 2012, a empreiteira fez outros quatro pagamentos de R$ 440 mil. Em 4 de fevereiro do ano passado, mais R$ 115 mil. Por fim, a construtora repassou, no período compreendido entre 7 de março de 2013 a 25 de junho deste ano, as últimas sete parcelas de R$ 215,85 mil. As investigações apontaram que a Galvão Engenharia fechou contratos com a Petrobras, entre 2010 e 2014, que somam R$ 3,47 bilhões.
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