Ontem foi iniciada a etapa final de elaboração do laudo pericial sobre a morte, que tem como causa oficial um ataque cardíaco, embora familiares suspeitam que ele tenha sido envenenado. Até sexta-feira, peritos da Polícia Federal e de dois laboratórios estrangeiros, um português e um espanhol, confrontarão os resultados das análises dos restos mortais do ex-presidente para confecção do parecer final a ser apresentado, primeiramente, à família de João Goulart, que suspeita que ele tenha sido envenenado. Em seguida, será feito o anúncio oficial das análises entregues à Comissão Nacional da Verdade.
“Esperamos, com isso, que possamos encerrar esse capítulo da história. Temos uma situação em que episódios de assassinatos de personalidades acabaram ficando comprovadas, principalmente, nas questões vinculadas à Operação Condor. Portanto, encerrarmos esse episódio com um laudo é o mínimo que devemos aos familiares e à sociedade brasileira”, disse a ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti.
Mal-estar
A entrevista da ministra provocou um mal-estar com familiares de Jango.
Ideli Salvatti, no entanto, explicou que não havia combinado com João Vicente a presença dos familiares no anúncio do cronograma, mas que agendou um encontro com eles na tarde de ontem. “No trabalho dos peritos, quem participa é o João Marcelo (filho de João). O pessoal iria até aguardá-lo para acompanhar os trabalhos. Ele vai acompanhar todos os quatro dias. Eu tenho uma conversa com ele para fazer todo o detalhamento”, disse Ideli.
Fase final Realizada a pedido da família, a análise dos restos mortais de Jango teve início em 13 de novembro do ano passado e foi feita por laboratórios do Brasil, da Espanha e de Portugal. O trabalho foi acompanhado por peritos da Argentina, do Uruguai e de Cuba, representantes da Cruz Vermelha e do Ministério Público Federal, além da família de Jango. Ontem, de acordo com Ideli, foram abertos os envelopes com os resultados de cada um dos laboratórios que participaram do processo.
Questionada sobre a possibilidade de a análise não ser conclusiva sobre a causa da morte, a ministra disse que o importante foi a transparência no processo de investigação. “Durante todo o procedimento de coleta e envio de materiais para os laboratórios, os familiares tiverem todo acesso. Para nós, o importante é o trabalho feito com transparência. É impossível darmos qualquer presunção ou alguma alusão à expectativa”, ponderou Ideli.
Deposto pelo regime militar (1964-1985), Goulart morreu no exílio, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina.