Após quase 38 anos, o Brasil poderá ter uma resposta definitiva sobre a causa da morte do ex-presidente da República João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina, onde ele estava exilado. O resultado final da perícia dos restos mortais de Jango, como era conhecido, será divulgado na segunda-feira, anunciou a Secretaria de Direitos Humanos.
Ontem foi iniciada a etapa final de elaboração do laudo pericial sobre a morte, que tem como causa oficial um ataque cardíaco, embora familiares suspeitam que ele tenha sido envenenado. Até sexta-feira, peritos da Polícia Federal e de dois laboratórios estrangeiros, um português e um espanhol, confrontarão os resultados das análises dos restos mortais do ex-presidente para confecção do parecer final a ser apresentado, primeiramente, à família de João Goulart, que suspeita que ele tenha sido envenenado. Em seguida, será feito o anúncio oficial das análises entregues à Comissão Nacional da Verdade.
Mal-estar
A entrevista da ministra provocou um mal-estar com familiares de Jango. João Vicente, filho do ex-presidente, estava com a família no aeroporto de Brasília, no momento do anúncio, e diz que Ideli preferiu fazer o anúncio sozinha. “O combinado era que esse anúncio seria feito na presença dos familiares. Não sei o que aconteceu. O evento estava marcado para as 15h, anteciparam e não nos informaram. Estamos aqui no aeroporto e não tem ninguém do governo nos esperando. Se fosse um problema de agenda, uma reunião urgente com a presidente, tudo bem. Mas não era. Parece que a ministra preferiu fazer esse anúncio sozinha. É a sétima vez que ocorre esse tipo de desencontro”, disse João Vicente.
Ideli Salvatti, no entanto, explicou que não havia combinado com João Vicente a presença dos familiares no anúncio do cronograma, mas que agendou um encontro com eles na tarde de ontem. “No trabalho dos peritos, quem participa é o João Marcelo (filho de João). O pessoal iria até aguardá-lo para acompanhar os trabalhos. Ele vai acompanhar todos os quatro dias. Eu tenho uma conversa com ele para fazer todo o detalhamento”, disse Ideli. “É importante ficar registrado. Não houve um ato que não teve o acompanhamento dos familiares. Eles acompanharam tudo que foi feito. Inclusive o João Marcelo acompanhou até quando os restos mortais foram manuseados parar retirar os elementos e levar para os laboratórios”, completou a ministra.
Fase final Realizada a pedido da família, a análise dos restos mortais de Jango teve início em 13 de novembro do ano passado e foi feita por laboratórios do Brasil, da Espanha e de Portugal. O trabalho foi acompanhado por peritos da Argentina, do Uruguai e de Cuba, representantes da Cruz Vermelha e do Ministério Público Federal, além da família de Jango. Ontem, de acordo com Ideli, foram abertos os envelopes com os resultados de cada um dos laboratórios que participaram do processo.
Questionada sobre a possibilidade de a análise não ser conclusiva sobre a causa da morte, a ministra disse que o importante foi a transparência no processo de investigação. “Durante todo o procedimento de coleta e envio de materiais para os laboratórios, os familiares tiverem todo acesso. Para nós, o importante é o trabalho feito com transparência. É impossível darmos qualquer presunção ou alguma alusão à expectativa”, ponderou Ideli.
Deposto pelo regime militar (1964-1985), Goulart morreu no exílio, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. O objetivo da exumação é descobrir se ele foi assassinado. Por imposição do regime militar brasileiro, o corpo do ex-presidente foi sepultado em sua cidade natal, São Borja (RS), sem passar por uma autópsia. Desde então, existe a suspeita de que a morte de Jango tenha sido articulada por autoridades das ditaduras brasileira, argentina e uruguaia, que tinham uma parceria - Operação Condor - estabelecida para combater os movimentos de resistência aos regimes impostos.