Brasília – Com a imagem arranhada pela série de denúncias de corrupção investigadas na Operação Lava-Jato, o PT quer arrastar uma multidão para a posse da presidente Dilma Rousseff, em 1º de janeiro, na tentativa de mostrar que a petista começa o novo governo com grande apoio popular.
Mesmo faltando ainda cinco semanas, uma comissão da legenda, formada na reunião da Executiva do partido do início de novembro, já trabalha na logística de convocação aos movimentos sociais para virem à Brasília. Os correligionários da presidente pretendem fazer uma festa semelhante à que foi montada para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. A Secretaria-Geral da Presidência, que faz a interlocução com os grupos sociais, também estabeleceu um grupo de trabalho para a mobilização.
A diferença é que, ao contrário da posse de Lula em 2003, que causou grande comoção no país, e da cerimônia da presidente Dilma em 2010, considerada um marco pela eleição da primeira mulher no cargo, a reeleição se dará em momento delicado. Além de alguns petistas reclamarem que a solenidade ocorre logo após as festas de fim de ano, quando a agenda dos convidados está cheia, um setor do partido está em alerta pela situação da presidente.
Interlocutores do governo ressaltam que integrantes do PT, que passa por um momento de desgaste, precisam se convencer da aproximação com os movimentos sociais como uma das principais armas para alavancar a popularidade do governo. A diferença de apenas 3 milhões de votos entre Dilma e Aécio Neves (PSDB), no segundo turno das eleições, é também apontada, dentro da sigla, como uma mostra da fragilidade do governo reeleito.
Um assessor palaciano destaca que o problema é que, ao mesmo tempo em que a presidente tem de agradar ao partido, precisa tomar decisões práticas – como a escolha da equipe econômica e a indicação da presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), para o Ministério da Agricultura – ambas decisões mal-vistas por parte do PT.
Aproximação O recado do governo à base petista insatisfeita é de que o momento exige uma aproximação com a população. Com esse argumento de estreitar a relação com o povo, para evitar outro movimento como as manifestações de junho de 2013, caciques do partido insistem em inflar a posse da presidente reeleita, que serviria como uma festa popular. Uma espécie aceno aos movimentos da juventude, das mulheres, dos negros e dos trabalhadores que ajudaram a eleger a presidente.
O discurso de Dilma já tem adotado esse tom. Na última quinta-feira, na 3ª Conferência Nacional de Economia Solidária, a presidente começou o movimento de aproximação. “Recebi de vocês um novo mandato para continuar fazendo mudanças. Daí porque eu vim aqui, fiz um esforço grande para vir, porque a minha agenda é uma loucura. (...) E eu vou continuar priorizando essa relação com vocês”, disse.
Outro esforço para inflar a posse é atrair a presença de chefes de Estado. Na cerimônia que marcou o início do atual mandato, 47 líderes estrangeiros vieram ao Brasil. De acordo com o Itamaraty, os convites já foram feitos, mas as confirmações costumam ocorrer mais perto da data. O presidente de Cuba, Raúl Castro, já demonstrou que tem interesse em comparecer. Dos Estados Unidos, há uma sinalização de que o vice-presidente Joe Biden deve estar presente.
Embora esteja em fase de elaboração, a programação para a posse deve ser semelhante à de 2010 e a de reeleição do ex-presidente Lula. Ainda não há confirmação de apresentações ao vivo, como ocorreu na cerimônia de 2011.