O resultado das eleições foi uma decepção para Eduardo Jorge (PV), que terminou a disputa em sexto lugar, com apenas 630 mil votos (0,61%). A expectativa dele e do partido era maior, principalmente levando em conta o frenesi gerado pelo ex-deputado e médico sanitarista com suas respostas fora do lugar-comum no Twitter – que ele mesmo administra – e também pela sinceridade prosaica adotada nos debates televisivos. “Quando chegou no finzinho, na hora H, na rodada final, o voto útil tirou 1,5 milhão da minha candidatura”, lamentou o candidato derrotado à Presidência, que esteve em Belo Horizonte na semana passada para receber uma medalha da Câmara Municipal e foi entrevistado pelo Estado de Minas.
Eduardo Jorge explica que o PV ainda não definiu o posicionamento em relação aos “próximos quatro anos do presidencialismo imperial do Brasil”, como ele define. O político garante que fará uma oposição construtiva, mas de uma só tacada criticou os futuros ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Agricultura, Kátia Abreu.
Em Belo Horizonte, o político vegetariano visitou o Mercado Central, comprou queijos, goiabada, doce de leite, recebeu o Grande Colar do Mérito Legislativo, fez uma palestra na Câmara e incentivou uma assessora de um deputado do PV a adotar a bicicleta em seus deslocamentos diários entre a casa e a Assembleia Legislativa. Falou também dos temas considerados polêmicos, como a legalização das drogas e liberação do aborto. “A Dilma e o Aécio pensam parecido com o que eu falei, mas não falam.
Qual a avaliação que o senhor faz da campanha eleitoral? E por que o resultado foi bem pior do que o conquistado pela Marina em 2010 pelo PV?
Sabíamos que esta seria uma campanha diferente de 2010, que foi Cruzeiro x Atlético. Quem não era Cruzeiro e nem Atlético e era América tinha que vir para o PV e para a nossa candidata. Em 2010 foi uma conjuntura diferente. Este ano, foram três grandes candidaturas cristalizadas. O Eduardo Campos, o Aécio e a Dilma, com campanhas estruturadas e apoio de grandes empreiteiras e grandes máquinas administrativas. Por isso, tínhamos consciência que a campanha de 2014 não seria igual à de 2010. Sabíamos que em dois ou três meses não se pode mudar um país continental com três candidaturas cristalizadas. Nós do PV sabíamos que deveríamos fazer uma campanha de divulgar as ideias de vanguarda do PV. Portanto, não esperávamos ter uma votação igual à que tivemos em 2010.
O senhor foi muito criticado por parte de seus eleitores por ter apoiado o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) no segundo turno...
Foi uma guerra civil no meu Twitter. Tinha gente que simpatizava com as teses que eu defendia e também simpatizava com a Dilma, com a Marina ou com o Aécio.
Se são tão iguais, porque escolheu um deles?
A diferença entre a Dilma e o Aécio é que o PSDB tem mais abertura para a questão ambiental que o PT. O PT é muito ligado a petróleo e a automóvel.
Como avalia a nomeação da ministra Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura?
A Kátia Abreu, do ponto de vista do PV, nós temos dificuldade de lidar, pois ela é uma entusiasta dos bois e é entusiasta da soja, que são duas coisas que causam um grande desmatamento no Brasil e que são do ponto de vista econômico falsamente eficientes. O Brasil tem hoje 240 milhões de bois. Tem mais bois do que homens e mulheres no Brasil. Eles (os bois) são altamente ineficientes do ponto de vista energético e da alimentação, além de serem devastadores da mata atlântica e do cerrado e da Amazônia. Isso significa aquecimento global e prejuízo para toda a humanidade. Se ela for ministra e quiser conversar conosco, conversaremos. Mas do ponto de vista agrícola a paixão do PV é a agricultura familiar e orgânica. Isso não negamos. Está no nosso programa.
Pretende ser candidato à Prefeitura de São Paulo ou a outro cargo?
Eu já fui voluntário nessa campanha e nem pensava em ser candidato mais, pois fui deputado por 20 anos e tenho família e trabalho e sinto que dei minha contribuição à política brasileira. Por enquanto, para mim, está bom. Vou ficar assim. Trabalhando no meu cargo de médico concursado da Secretaria Estadual de Saúde. Gosto disso e preciso também. .