Daniel Camargos
O resultado das eleições foi uma decepção para Eduardo Jorge (PV), que terminou a disputa em sexto lugar, com apenas 630 mil votos (0,61%). A expectativa dele e do partido era maior, principalmente levando em conta o frenesi gerado pelo ex-deputado e médico sanitarista com suas respostas fora do lugar-comum no Twitter – que ele mesmo administra – e também pela sinceridade prosaica adotada nos debates televisivos. “Quando chegou no finzinho, na hora H, na rodada final, o voto útil tirou 1,5 milhão da minha candidatura”, lamentou o candidato derrotado à Presidência, que esteve em Belo Horizonte na semana passada para receber uma medalha da Câmara Municipal e foi entrevistado pelo Estado de Minas.
Em Belo Horizonte, o político vegetariano visitou o Mercado Central, comprou queijos, goiabada, doce de leite, recebeu o Grande Colar do Mérito Legislativo, fez uma palestra na Câmara e incentivou uma assessora de um deputado do PV a adotar a bicicleta em seus deslocamentos diários entre a casa e a Assembleia Legislativa. Falou também dos temas considerados polêmicos, como a legalização das drogas e liberação do aborto. “A Dilma e o Aécio pensam parecido com o que eu falei, mas não falam. Não falam porque o marqueteiro não deixa falar. Isso é um prejuízo para o povo”, acredita Eduardo Jorge, que diz não querer ser candidato novamente.
Qual a avaliação que o senhor faz da campanha eleitoral? E por que o resultado foi bem pior do que o conquistado pela Marina em 2010 pelo PV?
Sabíamos que esta seria uma campanha diferente de 2010, que foi Cruzeiro x Atlético. Quem não era Cruzeiro e nem Atlético e era América tinha que vir para o PV e para a nossa candidata. Em 2010 foi uma conjuntura diferente. Este ano, foram três grandes candidaturas cristalizadas. O Eduardo Campos, o Aécio e a Dilma, com campanhas estruturadas e apoio de grandes empreiteiras e grandes máquinas administrativas. Por isso, tínhamos consciência que a campanha de 2014 não seria igual à de 2010. Sabíamos que em dois ou três meses não se pode mudar um país continental com três candidaturas cristalizadas. Nós do PV sabíamos que deveríamos fazer uma campanha de divulgar as ideias de vanguarda do PV. Portanto, não esperávamos ter uma votação igual à que tivemos em 2010.
O senhor foi muito criticado por parte de seus eleitores por ter apoiado o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) no segundo turno...
Foi uma guerra civil no meu Twitter. Tinha gente que simpatizava com as teses que eu defendia e também simpatizava com a Dilma, com a Marina ou com o Aécio. Tanto que quando chegou no finzinho, na hora H, na rodada final, o voto útil tirou 1,5 milhão da minha candidatura na última semana. Tinha gente que era muito simpático à minha campanha, mas estava de olho para saber quem ia para o segundo turno. Apoiamos o Aécio no segundo turno porque o diretório decidiu por 33 votos a seis. O Aécio e a Dilma, nós dizíamos, são muito parecidos, com política econômica e social, mas porque brigam tanto? Para se diferenciarem. Isso é marketing e para ganhar tem que ter voto. Eu falei uma vez para o Aécio em um debate: ‘para diferenciar você da Dilma e da Marina eu tenho que usar uma lente’. Quando declarei o apoio, eu disse para ele (Aécio), em frente a 3 mil tucanos, que sabia que ele e a Dilma eram muito parecidos do ponto de vista político-econômico e social. E agora está provado, pois a Dilma acabou de escolher um Armínio Fraga sem a inteligência do Armínio Fraga: o Joaquim Levy.
Se são tão iguais, porque escolheu um deles?
A diferença entre a Dilma e o Aécio é que o PSDB tem mais abertura para a questão ambiental que o PT. O PT é muito ligado a petróleo e a automóvel. Parece algo genético e eles não se libertam disso. O segundo ponto é que eu acho a relação do PSDB com o estado, com a democracia, é uma postura mais aberta que o PT. O PT tem uma postura muito fechada. Acima de tudo é o interesse do partido. Primeiro o partido, depois o povo e depois o país. Nesse ambiente do eleitorado nosso, que é um eleitorado muito livre, muita gente não entendeu, ficou bravo e o que eu poderia fazer? Responder. Fui o que eu fiz no Twitter. O que não faria era repetir o erro da Marina e do PV em 2010, que foi ficar em cima do muro.
Como avalia a nomeação da ministra Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura?
A Kátia Abreu, do ponto de vista do PV, nós temos dificuldade de lidar, pois ela é uma entusiasta dos bois e é entusiasta da soja, que são duas coisas que causam um grande desmatamento no Brasil e que são do ponto de vista econômico falsamente eficientes. O Brasil tem hoje 240 milhões de bois. Tem mais bois do que homens e mulheres no Brasil. Eles (os bois) são altamente ineficientes do ponto de vista energético e da alimentação, além de serem devastadores da mata atlântica e do cerrado e da Amazônia. Isso significa aquecimento global e prejuízo para toda a humanidade. Se ela for ministra e quiser conversar conosco, conversaremos. Mas do ponto de vista agrícola a paixão do PV é a agricultura familiar e orgânica. Isso não negamos. Está no nosso programa.
Pretende ser candidato à Prefeitura de São Paulo ou a outro cargo?
Eu já fui voluntário nessa campanha e nem pensava em ser candidato mais, pois fui deputado por 20 anos e tenho família e trabalho e sinto que dei minha contribuição à política brasileira. Por enquanto, para mim, está bom. Vou ficar assim. Trabalhando no meu cargo de médico concursado da Secretaria Estadual de Saúde. Gosto disso e preciso também.