Além desse cenário complexo, o quadro fica ainda pior porque a oposição tende a vir fortalecida no próximo ano no Senado. Políticos experientes como José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissatti (PSDB-CE), Antonio Anastasia (PSDB-MG) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) vão somar-se aos que já estão lá, como Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), agregados ao aguerrido Romário (PSB-RJ). Eles devem dificultar ao máximo a vida do governo e do PT ao longo dos próximos quatro anos.
A bancada petista do Senado perderá Eduardo Suplicy (SP), que não foi reeleito, e Wellington Dias (PI), que venceu a disputa pelo governo estadual. E terá ainda de contornar o retorno de Marta Suplicy (SP), que deixou o governo magoada, escreveu uma carta mal-criada à presidente e ainda pretende tensionar o PT paulista para tentar ser a candidata do partido à prefeitura em 2016, à revelia do direito de Fernando Haddad de concorrer à reeleição. Alguns petistas temem os primeiros meses de 2015.
Um dos citados como beneficiário do esquema investigado pela Operação Lava-Jato, o senador Humberto Costa não acredita que o PT do Senado vá diminuir a intensidade na defesa do governo. E vê os vazamentos como uma ação orquestrada para prejudicar a legenda e o Planalto. “Prova disso é que os três nomes citados até o momento estão na ponta de lança da defesa da presidente Dilma”, justificou Costa. A senadora Gleisi Hoffmann tem reclamado que não teve acesso à delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, mas tenta manter a tranquilidade alegando que poderá provar não ter tido qualquer participação no esquema de corrupção montado na principal empresa do país.
O senador Wellington Dias (PT-PI) admite que serão tempos difíceis, mas aposta na capacidade da bancada de fazer o diálogo. “Sabemos que existe uma tentativa, não apenas aqui, mas também na sociedade, de dar continuidade à disputa eleitoral. Na verdade, não acho que será muito diferente do que foi em 2011, quando a presidente Dilma elegeu-se para o primeiro mandato. A diferença hoje é que nossa bancada está mais madura”, definiu.
Encolhimento
Na Câmara, os estragos da Operação Lava-Jato na bancada do PT já foram computados. Ex-vice-presidente da Casa, André Vargas, do Paraná, perdeu o cargo na Mesa Diretora, deixou o partido e luta para evitar a cassação do mandato no plenário. Outro citado nas investigações feitas pela Polícia Federal foi o deputado Cândido Vaccarezza, de São Paulo, que não conseguiu se reeleger.
Mas isso não significa que os deputados do PT não precisem administrar problemas. A bancada paulista encolheu, a pernambucana desapareceu.
Continuam no páreo Arlindo Chinaglia (PT-SP) e José Guimarães (PT-CE). O primeiro admitiu que os nomes ainda estão sendo analisados, não apenas internamente mas também entre os demais partidos aliados. A expectativa é de que a decisão seja tomada ainda este ano, para contrapor-se à força da candidatura de Eduardo Cunha (RJ). “Não há por que ter pressa, vamos conversar sobre essa questão nesta semana”, garantiu Guimarães.
No Planalto, há uma nítida preocupação com o enfraquecimento do PT no Congresso. O encolhimento do partido na Câmara é atribuído à ausência de grandes nomes puxadores de votos. João Paulo Cunha, José Genoino e José Dirceu foram condenados no processo do mensalão; José Eduardo Cardozo e Ricardo Berzoini tornaram-se, respectivamente, ministros da Justiça e da Secretaria de Relações Institucionais (SRI); Aloizio Mercadante é chefe da Casa Civil, mas era senador antes disso. Jaques Wagner é governador eleito e reeleito da Bahia.
“Se analisarmos os últimos 12 anos, vencemos a disputa para o governo federal, mas perdemos, por razões diversas, nossos principais estrategistas no Congresso”, lamentou um aliado da presidente Dilma Rousseff. “Tínhamos os especialistas em negociação política, os experts em regimento interno e os escalados para os embates em plenário. Hoje em dia, essas funções estão sobrepostas em poucas pessoas. Se elas estiverem no alvo de denúncias, a crise se instala”, completou o interlocutor dilmista..