A operação da PF começou investigando uma rede de quatro doleiros que movimentou R$ 10 bilhões em esquemas criminosos diversos, mas acabou se deparando com suspeitas de desvios de recursos da maior empresa do país. Passados oito meses desde a deflagração da primeira fase, em março, já foram investigados e denunciados operadores e empreiteiras. Agora, começa a chegar a vez dos políticos. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve analisar delações premiadas para abrir inquéritos ou denúncias contra parlamentares.
Mas os futuros ex-congressistas também estão na mira do Ministério Público. Os deputados André Vargas (ex-PT-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA) vão perder seus mandato em 1º de fevereiro. Depois disso, perdem o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal e passam a responder criminalmente como cidadãos comuns.
Ele lembra que as provas do cartel não se limitam às palavras de delatores, como o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e os executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça. Carlos Fernando diz que as “peculiaridades” em licitações das maiores obras da Petrobras mostram indícios de combinação de preços. Ele se refere à Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
“Temos essa análise dos valores, da forma como as licitações foram organizadas”, esclarece o procurador, que integra um grupo formado por oito membros do Ministério Público, com participação ainda de ao menos cinco delegados da Polícia Federal, agentes, peritos e analistas contábeis e de informática. A elite da Procuradoria foi formada por Rodrigo Janot, com especialistas em crimes financeiros, mas também em licitações e contratos. Em uma obra na Refinaria Abreu e Lima, por exemplo, o MPF já informou à Justiça indícios de “fraude na concorrência entre licitantes” ao analisar a diferença nos valores oferecidos entre as empreiteiras e a oferta do consórcio vencedor, a única dentro do limite do permitido para ganhar um contrato de mais de R$ 3 bilhões.
Como mostrou o Estado de Minas domingo passado, no Comperj – no qual R$ 7,6 bilhões foram pagos sem licitação, segundo o Tribunal de Contas da União –, as empreiteiras do cartel fizeram os aditivos mais altos em relação às demais fornecedoras da Petrobras. Parte desses aumentos é atribuído a um decreto da época do governo Fernando Henrique (PSDB), que autorizou reajustes sem limites nos projetos. Na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a petroleira conseguiu uma liminar no Supremo para continuar o sistema. O governo de Dilma Rousseff (PT) implantou o mesmo mecanismo da Petrobras em boa parte das obras públicas com o Regime Diferenciado de Contratações (RDC).
Investigação benéfica
Especialista em combate a cartéis, o procurador regional da República do Rio Grande do Sul Lafayete Josué Petter entende que a Operação Lava-Jato será benéfica para o país e para a estatal. “A operação salvará a Petrobras”, avalia. “Imediatamente, parece destruição, mas estamos em processo de purificação de contratos, cuidados, procedimentos”, analisou. Para Lafayete, a sensação de impunidade está se reduzindo e isso será bom para o caso. Se há 50 anos não se prendia um sargento do Exército, hoje até governadores param na prisão. “Os grandes negócios na construção, a partir desse momento, estarão mais receosos de uma consequência de um ato criminoso. Já temos um resultado dessa operação”, afirmou o procurador, que espera que o Supremo seja rigoroso na condenação de réus políticos do caso Petrobras..