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Estado de Minas

Executivo diz que negociou propina para o caixa do PT

Executivo de empreiteira afirma que parte do dinheiro pago a ex-diretor da Petrobras eram doações oficiais ao partido governista. Repasses chegaram a R$ 4 milhões entre 2008 e 2011


postado em 04/12/2014 06:00 / atualizado em 04/12/2014 07:17

Renato Duque (E) foi solto nessa quarta-feira, beneficiado por habeas corpus concedido por ministro do STF (foto: Paulo Lisboa//Photo Press/Estadão Conteúdo)
Renato Duque (E) foi solto nessa quarta-feira, beneficiado por habeas corpus concedido por ministro do STF (foto: Paulo Lisboa//Photo Press/Estadão Conteúdo)

Brasília – O executivo da Toyo Setal Augusto Ribeiro de Mendonça Neto afirmou que negociou entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões em propinas “diretamente” com o ex-diretor de Serviços e Engenharia da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT. Parte do dinheiro foi repassada por meio de doações eleitorais oficiais aos petistas. Ele fez as afirmações em depoimento prestado à Polícia Federal em regime de delação premiada na Operação Lava-Jato. Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari, têm negado participação em esquemas de corrupção.


De acordo com Mendonça, os valores foram pagos entre 2008 e 2011. Ele afirmou que o gerente de Serviços Pedro Barusco, outro que firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público, agia em nome de Duque. O dinheiro era pago em parcelas em dinheiro, remessa para contas no exterior ou doações ao PT – algo em torno de R$ 4 milhões, segundo o delator. O partido afirma que todo o processo de doação eleitoral ocorreu dentro da legalidade. Mendonça Neto afirmou que as empresas responsáveis pelas doações foram a Setec Tecnologia, a PEM Engenharia e a SOG Óleo e Gás. Júlio Camargo, outro executivo da Toyo que firmou acordo de delação, disse à Polícia Federal que fez muitas doações eleitorais a 11 partidos, mas negou relação com propinas.

O depoimento de Mendonça foi prestado em 29 de outubro ao delegado Felipe Hayashi e tornado público ontem pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro. O magistrado atendeu à defesa de executivos da empreiteira OAS, que pediram acesso às oitivas para preparação das defesas.

Mendonça disse aos policiais no fim de outubro que estava providenciando documentos para comprovar os pagamentos às empresas. Os repasses eram feitos por meio de bancos ou em espécie, mas as fornecedoras da Setec remetiam o dinheiro para o exterior. Em algumas ocasiões, o dinheiro foi entregue em espécie a Renato Duque por meio de um emissário de apelido “Tigrão”. Em outras ocasiões, Barusco mandava que a verba fosse entregue em um escritório em São Paulo. “Tigrão” é descrito como um homem em torno de 40 anos, moreno, com altura entre 1m70 e 1m80 e “meio gordinho”. O executivo afirmou que o dinheiro era retirado em seu escritório também por outros homens. Há 20 dias, a PF procura informações sobre “Tigrão” e outros dois personagens misteriosos, “Melancia” e “Eucalipto”, citados ao longo do processo da Petrobras.

As licitações na Repar foram vencidas pela Toyo graças ao apoio do “clube” de empreiteiras que dividia em lotes os contratos da Petrobras. Esse grupo é o cartel de construtoras. Mendonça Neto disse ainda que Duque recebeu da Toyo Setal, contratada pela petroleira para obras no Paraná e em São Paulo, 1,3% em “comissões” sobre o valor total de cada contrato fechado. O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP, recebeu 0,6% sobre os contratos, segundo o delator.

‘CAMPEONATO’ Ainda segundo o depoimento de Mendonça, Duque recebeu propinas na sobra do terminal de Cabiúnas, no Rio de Janeiro, assim como Costa. Ele disse que o pagamento de propinas na Petrobras era “institucionalizado” e incluía até obras em que os fornecedores apresentavam preços abaixo dos custos de construção, consideradas impossíveis de serem executadas sem prejuízo. Mendonça contou que foi elaborada uma série de regras para o “clube”, como se fosse “um campeonato de futebol”. Cópias dessas regras, segundo ele, foram destruídas após a Operação Lava-Jato ser deflagrada.

O executivo informou ainda que o número de empreiteiras beneficiadas com o “clube” é ainda maior do que o já noticiado, chegando a 20. Além de 14 membros fixos, outras seis empresas conseguiram, sempre segundo o delator, obter contratos a partir de ajuda do “clube”. São os casos da Alusa, Fidens, Jaraguá, Tomé, Construcap e Carioca Engenharia. Os membros fixos foram, conforme o empreiteiro, num primeiro momento eram Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e a Setal-SOG. Numa segunda etapa, a partir de final de 2006, agregaram-se ao “clube” a OAS, Skanska, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix, GDK e Galvão Engenharia. (Com agências)

Ex-diretor é solto

Curitiba – O ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba por volta das 12h45 de ontem. Com aparência tranquila, ele saiu a pé, acompanhado de um dos advogados de defesa, e não respondeu às perguntas de jornalistas. Disse apenas, em voz baixa, que queria ver sua família e que não iria dar declarações. “Eu quero ver minha família, só isso’, afirmou o ex-diretor, que embarcaria em seguida para o Rio de Janeiro. Na saída, em cima de uma moto, um popular viu Renato Duque e o xingou “maloqueiro” e “vagabundo”.

Em sua decisão, o ministro Teori Zavascki afirmou que o fato de Renato Duque supostamente manter contas no exterior não é motivo para a manutenção da prisão preventiva e que a decisão do Primeiro e Segundo Grau, de mantê-lo preso, foi baseada apenas em presunção de fuga, não em atos concretos que indicassem a possibilidade de ele fugir do país.

"Roteiro"

Ministros, dirigentes petistas e congressistas do partido veem a delação de Mendonça Neto, da Toyo Setal, como parte de um “roteiro” dos investigadores da Lava-Jato para envolver a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no escândalo da Petrobras. “Eles têm procurado fazer isso desde a campanha”, diz um auxiliar próximo à presidente. Para eles, será difícil que o juiz Sergio Moro consiga “criminalizar a propina legal”. “Como você diz que uma coisa que aconteceu dentro da lei, sob o olhar do Judiciário, foi ilegal?”, diz um ministro. “Para atingir o PT, tem que criminalizar as doações legais. Mas não só as do PT, mas de todos os demais partidos. Tem que mudar a lei. Doação para o PT é corrupção e para o PSDB é de fundo de caridade?”, ironizou um alvo da Lava-Jato.

 


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